Sobre os Ossos dos Mortos de Olga Tokarczuk lançado pela Editora Todavia é um livro que tem dado o que falar no Brasil e no mundo.
A Editora Todavia teve um golpe de sorte, pois já estava preparando a tradução deste livro quando a autora foi agraciada com o prêmio Nobel de Literatura em 2019.
Olga Tokarczuk, que além de ganhar o prêmio Nobel em 2019, tinha ganho o Man Book Prize em 2018 na Inglaterra, tornando-a conhecida internacionalmente, é polonesa tem uma obra composta por temas extremamente modernos e diferentes.
Infelizmente no Brasil este é seu único livro disponível, mas se depender do sucesso deste titulo, tenho certeza que em breve teremos novos livros traduzidos por aqui. A própria editora Todavia já avisou que está traduzindo outra obra da autora, e assim como essa, o interessante é que a tradução está sendo feita direto do polonês.
Sobre os Ossos dos Mortos conta a estória de Janina Dusheiko, uma ranzinza sexagenária, vegetariana, estudiosa de astrologia e defensora dos animais, ex-engenheira aposentada que vive em uma região montanhosa na Polônia, divisa com a República Tcheca.
Uma vez por semana ela dá aulas de inglês para crianças no vilarejo e durante o inverno cuida da manutenção das casas dos vizinhos, que só ficam por ali no verão.
Mas sua principal atividade é salvar animais que vivem na floresta, já que na região em que vive, a caça é liberada durante quase todo o ano, algo que para ela é inconcebível.
A estória começa quando um vizinho é encontrado morto e outro vizinho pede ajuda a Sra. Dusheiko. O morto é Pé Grande. O vizinho é Esquisito, nomes pelos quais a Sra. Dusheiko os reconhece, já que ela acredita que nomes devem estar associados a características que nos façam facilmente reconhecer a pessoa.
Pé Grande na verdade é um dos grandes desafetos da senhorinha, pois costumava caçar de maneira ilegal, ou seja, fora da temporada e principalmente colocando armadilhas na floresta, algo que a Sra. Dusheiko passava dias desfazendo.
Acontece que depois deste dia, novas pessoas começam a morrer no vilarejo.
São pessoas com cargos importantes na região, mas ao começar a investigação descobre-se que todos possuem negócios escusos pela cidade.
Porém, de acordo com a Sra Dusheiko, todos possuem uma característica que os conecta:
Todos são caçadores.
Na verdade, todos praticam caça como hobby.
Aparentemente as mortes estão relacionadas aos negócios escusos, mas a cada morte, nossa doida senhorinha faz o mapa astral da vitima, e logo consegue fazer uma grande descoberta que corre informar a polícia em seu papel de boa cidadã:
– Eles estão sendo assassinados pelos animais que cansaram de ser caçados e decidiram se vingar.
Por incrivel que pareça, em todos os locais dos crimes existem evidencias da presença de animais. Corsas, raposas e até besouros.
Realidade ou alucinação? Velhinha inteligente ou senil? Será que chegou a hora da natureza se vingar do ser humano?
Isso você vai precisar ler para saber.
Em tempos de corona vírus, o livro traz discussões extremamente pertinentes.
O que fazemos a natureza pode retornar a nós de uma maneira diferente da que esperamos.
Este foi um livro que realmente me tirou da minha zona de conforto, pois é cheio de assuntos diferentes do que estou acostumado a ler, mas não pense que porque ganhou o prêmio Nobel, seja um livro de leitura difícil.
OK, não é uma linguagem ágil de um best-seller americano, e confesso que quando nossa protagonista começava a falar sobre os astros dava um pouco de vontade de fazer uma leitura dinâmica, mas é uma cultura tão diferente da nossa que a estória acaba nos pegando.
Primeiro pelos personagens: A Sra Dusheiko é uma personagem sensacional. Ela é detestável, mas é difícil o leitor não torcer por sua rabugice. Mas além delas temos o Esquisito, a Boas Novas, o Capa Preta, a Acinzentada, o padre Farfalhar e o único que acho que realmente tem um nome, seu amigo Disio.
Segundo ponto é a ambientação da história: A vida naquele local é extremamente difícil e solitária, e a autora consegue fazer que a gente sinta isso perfeitamente. E me deixou com vontade de dar um passeio até ali.
Muitas pessoas tem tentado vender este livro como um livro de suspense, o que pode frustrar os leitores que chegarem até aqui procurando por um thriller de tirar o folego.
O livro tem sim um suspense e uma investigação criminal, mas o foco da autora não é este.
O mais importante para ela são as discussões que o livro levanta principalmente sobre a caça e sobre o quanto o homem ainda afeta a natureza.
Além da relação entre homem e animal, que nos faz a refletir sobre quão cruel não somos nessa relação.
E o mais importante de tudo é que o livro nos traz diversas reflexões sem parecer um folder do Greenpeace.
Mas por que, então, deveríamos ser úteis? E para quem? Quem é que dividiu o mundo em útil e inútil, e quem lhe deu o direito de fazê-lo? Desse modo, o cardo não teria o direito de viver, nem um rato que devora os grãos nos armazéns, nem sequer as abelhas ou os zangões, as ervas daninhas ou as rosas. Quem foi o dono da mente que se atreveu a tanta arrogância para julgar quem é melhor ou pior? Uma árvore enorme, torta e cheia de buracos sobreviveu por vários séculos sem ser derrubada, porque não se podia fazer nada com ela. Esse exemplo deveria animar pessoas como nós. Todos conhecem o benefício do útil, mas ninguém conhece o proveito do inútil.
E como cereja do bolo a história ainda traz uma surpresa bem legal no final, algo que eu já esperava, mas que sei que surpreendeu muita gente.
Se você é um vegetariano fanático que posta fotos de cachorros no Facebook e manda ppt de gatinhos com bom dia em grupo de whatsapp, este livro foi feito pra você.
Se você, assim como eu, abomina este tipo de gente, este livro também é pra você, pois Sobre Os Ossos dos Mortos é um livro muito interessante e que recomendo para todos aqueles que buscam uma história diferente e original.
E Olga Tokarczuk é uma autora para ficarmos atentos, pois parece que tem muita coisa boa dela a ser lançada por aqui.
Uma observação interessante é que este livro deu origem a um filme polonês chamado Pokot de Agnieska Holland que recebeu o Urso de Prata no festival de Berlim. No Brasil o filme chegou a ser exibido com o nome de Rastros, mas infelizmente enquanto escrevia esta resenha não consegui encontra-lo disponível em nenhuma plataforma para assistir, mas pelo trailer (Só achei trailer em inglês ou polonês) parece ser um filme muito bom.
E você, já leu este livro? Qual a sua opinião?
E já leu algum outro livro da autora?? Qual seu preferido?
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Se você ainda não leu, e ficou interessado, segue aqui um link para compra do livro:
No Submarino: Sobre os Ossos dos Mortos no Sub.
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