Preciso começar dizendo que Pacientes que Curam – O cotidiano de uma médica do SUS da Júlia Rocha foi a minha melhor leitura desse ano até o momento, e duvido que outro livro venha tirá-lo desse posto. O livro foi publicado pela Editora Civilização Brasileira em 2021, e já aviso que preciso de uma continuação dele.
Pacientes que curam traz diversos relatos curtos das vivências da médica Júlia Rocha atendendo pacientes através do SUS – Sistema Único de Saúde. Júlia traz relatos reais de várias de suas consultas, mostrando uma parte da realidade que muitos de nós não temos e talvez sequer chegaremos a ter.
Ainda que esse livro tenha me afetado enormemente como profissional de saúde, ele me afetou pessoalmente como cidadã, e abriu meus olhos de uma forma que não pude imaginar. Alguns desses relatos eu já tinha lido no Facebook da autora, mas, aqui compilados, trazem um peso que espaçados não tiveram.
Vivemos dentro de uma bolha e, mesmo como cidadãos ou como profissionais de saúde, não conseguimos enxergar a realidade do outro. É muito fácil prescrever ou dispensar um medicamento sem sequer pensar naquela pessoa na sua frente como um ser humano, não apenas como mais um número, seja de um cartão de saúde ou de uma estatística comum.
‘’É a nossa socialização em uma sociedade que desumaniza e coisifica esse outro, antítese de um ideal de humanidade, que nos faz ter de falar de humanização dentro de um consultório médico, onde dois seres humanos se entendem, ou deveriam se entender.’’
Pacientes que curam vem para dar esse soco na boca do estomago, acordar nossa sensibilidade e mostrar que existe uma realidade fora da nossa bolha que é muito mais difícil e complexa do que imaginamos, e que nós temos o poder de mudar a vida das pessoas com gestos simples, como um olhar mais atento, um minuto a mais de conversa, um sorriso no fim do dia.
‘’Cuidado é singular. Como as pessoas também são.’’
Temos histórias felizes e temos histórias tristes, mas terminei Pacientes que curam com a certeza de que posso fazer bem mais do que um trabalho automático, posso levar muito mais alegria e qualidade de vida com pequenos gestos, mudando vidas.
‘’Há muito amor no mundo, ainda. Às vezes, o que precisamos é limpar as lentes para enxergar.’’
Eu recomendo esse livro para todo mundo. Pacientes que curam é um livro precioso, necessário, para que nós, sendo da área da saúde ou não, possamos enxergar as dores e alegrias dos outros, e conhecer a realidade que parece ser tão distante de nós.
‘’Somos pós-doutores em diminuir a dor alheia mesmo sem saber de quase nada do que aquela pessoa que viveu ou vive. A gente devia ouvir mais e falar menos.’’