Odd é um garoto viking de doze anos, órfão de pai, que morreu após uma missão no mar. Manco após um acidente, seu padrasto o ignora, e os demais moradores não gostam dele. Cansado daquilo tratamento, Odd decide ir morar sozinho. No caminho da cabana abandonada de seu pai, se depara com uma raposa, um urso e uma águia; três criaturas com a mais curiosa das histórias para contar; e uma missão muito perigosa para um menino com uma perna boa, uma perna bem ruim e uma bengala de madeira.
Odd e os Gigantes de Gelo (Rocco, Odd and the Frost Giants, 2008) de Neil Gaiman, seu primeiro livro essencialmente infanto-juvenil na essência; já que outros trabalhos, como Stardust (1998) ou Coraline (2002), foram voltados para adolescentes e jovens adultos. Gaiman apresentou esse conto para a edição de 2008 do Dia Mundial do Livro no Reino Unido. E para o autor foi um desafio escrever uma narrativa que não ultrapassasse 14.500 palavras e o resultado foi a aventura do pequeno viking Odd.
O fato de Odin, Thor e Loki aparecerem, provavelmente faz com que lembremos de Deuses Americanos (2001) e Os Filhos de Anansi (2005). Se fizermos uma comparação, o conto seria um aspecto dessas obras, mas que dá aos jovens leitores um suave fragmento de fantasia das narrativas citadas.
A narrativa do conto
O conhecimento de Gaiman sobre a mitologia nórdica é evidente; e a história é escrita em linguagem simples, mas eficaz, polvilhada com poesia e magia. Uma excelente opção para incentivar os mais pequenos a ler. Apesar dos infortúnios de Odd, é uma história comovente e agradavelmente fantástica, com personagens bem construídos pelo melhor contador de histórias do século XXI.
Ao narrar a história de Odd sem sorte, Gaiman trata seu personagem para encara o futuro com um sorriso, algo que desconcerta e até incomoda as pessoas ao seu redor, mais acostumadas a reclamar e não buscar soluções para os problemas. Os três animais, avatares de Thor, o senhor do trovão; Odin, o maior de todos os deuses e Loki… irmão de sangue dos deuses, que o levam a uma jornada incrível: resgatar Asgard dos gigantes do gelo e acabar com aquele inverno sem fim.
Dessa forma, Odd e os Gigantes de Gelo se torna um romance formativo, pois vemos Odd começar sua jornada para Asgard quando criança e voltar para casa como adulto. Embora seja mais uma evolução física, uma confirmação para o mundo do que Odd foi desde o início, pois sua personalidade e atitude diante da vida mostram sua maturidade e engenhosidade desde a primeira página.
Como sempre, Gaiman usa os elementos clássicos desse tipo de história para dar uma reviravolta e quebrar clichês e preconceitos: os mocinhos não são tão bons, os bandidos não são tão ruins e os problemas nem sempre são resolvidos do mesmo jeito. Isso é apreciado em qualquer livro, mas principalmente naqueles voltados para o público infantil, porque os abrem e garantem uma leitura divertida e cheia de aventuras. Além disso, é um livro perfeito para eles descobrirem e ficarem fascinados com a mitologia nórdica além dos filmes de super-heróis da Marvel.
É fácil ignorar a ingenuidade do enredo, oras, é um conto infantil; como por exemplo, na primeira abordagem de Odd aos animais ou a maneira óbvia no confronto contra o gigante de gelo; entretanto, a importância desta história reside no percurso de crescimento do seu protagonista, que regressa à aldeia quase irreconhecível após a sua extraordinária aventura e sabe o que fazer, por si e pela mãe.