” Minha vida de rata” , da autora Norte-americana Joyce Carol Oates, foi o livro escolhido pela curadoria da Tag do mês de outubro para seus assinantes e eu curti muito a leitura apesar de alguns incômodos.
Violet vem de uma família disfuncional e desestruturada. Seus irmãos, brancos e valentões Jerome jr. e Lionel estão sempre metidos em confusões e sempre se safaram de alguns crimes. Mas quando os dois, num ato de atrocidade, mata um rapaz negro da escola à pauladas usando um taco de beisebol , Violet não consegue manter o segredo que a família tanto tenta encobrir por muito tempo e , atormentada com isso, acaba dedurando os irmãos que posteriormente acabam sendo julgados e condenados com muitos anos de cadeia pela frente.
Na família de Violet ninguém perdoa delatores. E ela sendo irmã mesmo sendo uma criança, e tendo sido capaz de entregá-los para a polícia , acaba sendo retaliada por essa atitude, sendo totalmente excluída do seio da própria família. Uma família que mesmo não sendo perfeita ela adorava. Sua vida agora será de rata: repudiada pela sociedade e pela família apenas aos 12 anos de idade, sendo mandada embora de casa, tentando se ajustar e se adequar à nova e triste realidade na casa de uma tia, Violet vai crescendo sem nunca desistir de juntar os fragmentos que sobraram de sua antiga vida. E essa tentativa é como um espelho quebrado, onde você junta os cacos mas jamais verá o reflexo como antes. Nunca mais será o mesmo.
“Como uma família é igual à uma árvore gigantesca. Não importa se a árvore está profundamente ferida, começando a morrer e apodrecer, as raízes, estão emaranhadas debaixo da terra, impossível de desembaraçar”
O livro é melancólico, impacta pela crueza de como é escrito, envolve relações familiares sem romantizar parentescos. Toca em questões como racismo, pedofilia, homicídio, abusos sexuais,agressão e rejeição. Tem partes pesadas e indigestas. Me incomodou o fato de a protagonista sempre dizer: ” fiz isso, mas talvez tenha feito aquilo”, ” disse isso, mas será que eu disse isso mesmo”? e ao longo da narrativa se torna algo irritante que traz dúvidas ao leitor o tempo todo. Não sei se foi uma intenção proposital da autora, por construir a mente de uma jovem adolescente, onde é comum tantas dúvidas e incertezas mesmo.
O livro faz a gente refletir o momento que a gente vive mesmo. Quem nunca viu um caso onde existe inversão de valores? Onde o errado passa a ser o certo e vice-versa. Não entendi por quê a Violet teve que passar por toda essa pressão e exclusão . Levar uma vida escondida,sem ter feito nada de errado. E aqui nada de bom acontece na vida dessa menina. Por ter feito o que fez, por ser irmã de quem é. Só há privações, humilhações e maldade em torno dela por toda parte, sejam vindas da família ou da sociedade. Todos os dedos estão apontados para ela. Nenhuma sorte, só revés. A vida não é nada branda para ela.
No geral, gostei da obra. Muito bem ambientada e bem escrita.