Medicina Macabra é um livro de curiosidades médicas do passado escrito por Thomas Morris e publicado no Brasil em uma impecável edição da Darkside Books. O livro reúne diversos fatos médicos um tanto quanto diferentes, todos baseados em artigos escritos na época e com uma extensa pesquisa do autor, que ainda nos brinda com diversos comentários espirituosos ao longo de toda a escrita.
O monsieur Dupuytren deduziu que o estrangulamento fora aliviado ao ser tornar alvo de um jato de urina. A medicina pode ser uma coisa fascinante.
O livro foi dividido em 7 grandes áreas, onde dentro de cada uma Thomas Morris trabalhou com casos que deixam qualquer leitor confuso em como isso pode ter acontecido. Aliado à imagens muito bem feitas (algumas até que reavivaram uma fobia minha), os textos curtos e comentários sagazes deixam claro que o livro é para aqueles leitores que gostam de coisas excêntricas.

A primeira parte é a Vergonha Alheia. Foi uma parte onde tive várias dúvidas, principalmente como não entramos em extinção. Os melhores foram O enamorado cadeado de ouro e A tosse maldita do menino ganso. Os casos de burrice, na melhor das descrições, deixam qualquer leitor de queixo caído ao tentar entender porque as pessoas fazem o que fazem.
A segunda incisão de Medicina Macabra é Insólita Medicina. Já nessa parte vemos como coisas simples que temos conhecimento atualmente eram uma fonte de mistérios e lendas para as pessoas no passado, como por exemplo o caso da serpente no coração. Essa parte também mostra como o corpo humano pode reagir a diversos corpos estranhos de uma forma natural.
A terceira parte, ou incisão, do livro foi Remédios Irremediáveis. Como farmacêutica, fiquei bem ansiosa com essa parte, mas acho que me fui muito afoita e acabei me decepcionando. Não que essa parte seja ruim, já que aprendemos a reanimar um morto assoprando fumaça em seu ânus, mas não foi bem o que eu esperava. E, sejamos sinceros, hoje em dia todo mundo tem que saber essa técnica básica de reanimação, não é verdade?

A quarta incisão de Medicina Macabra foi Cirurgias Macabras. Apesar de que, alguns casos nem foram tão macabras assim, foram o que era possível ser feito no momento de necessidade, como uma operação em alto mar. Apesar de que,, em uma época que não havia anestesia, um médico conseguir realizar duas amputações sem qualquer esboço de dor dos pacientes é um tanto quanto estranho.
Curas Extraordinárias, a quinta incisão, foi a que mais demorei a ler. Por mais interessantes que fossem, os casos não me prenderam tanto a atenção quanto gostaria, fazendo com que levasse bem mais tempo do que imaginava para terminar o livro. Ainda assim, depois dessa parte, não recomendo a ninguém tentar se matar martelando uma adaga na cabeça. Pode não dar muito certo, como no caso relato, não deu.
A sexta incisão, Histórias Macabras, mostram que até mesmo profissionais de longa data podem cair na lábia de seus pacientes e acreditar em muitas de suas histórias. E que superstições populares, algumas que perduram até hoje (se a mulher tiver grávida e com vontade de comer coxinha e não comer, o bebê irá nascer com cara de coxinha), são só crendices mal contadas. E, pelo amor de Deus, não tentem transformar seus filhos em crianças anfíbias como um médico maluco tentou fazer, ao deixar o filho submerso por até 20 minutos.
Ou seja, ele estava enfiando um graveto pelo que lhe restara do pênis para sentir prazer sexual. Tudo isso, aparentemente, sem uma pausa para se perguntar onde sua vida dera errado.
Finalizando Medicina Macabra com chave de ouro temos Perigos Escondidos, um capítulo que pode ser um perigo na mão de qualquer hipocondríaco. Os casos de conclusões precipitadas são engraçados de tão ridículos, como um médico que conseguiu correlacionar andar de bicicleta com desenvolver problemas cardíacos.
Por fim, Medicina Macabra é um prato cheio para os amantes de curiosidades e ciências. Com a edição bem desenhada, trabalhada e bem fundamentada (todas as fontes utilizadas estão no fim do livro), Medicina Macabra é uma leitura de arrepiar e se deliciar.

Recomendação: Caso você tenha o estômago mais fraco, para não ter a necessidade de fazer o uso de fezes de répteis para se restabelecer, simplesmente não leiam o livro enquanto comem. Já para os que não tem problema, evitem líquidos para não correr o risco de molhar o livro ao segurar a risada em algumas partes.