Review | Eu Odeio Contos de Fadas, de Skottie Young

Bem-vindo ao País das Fadas

Quem nunca sonhou em viajar para um mundo de fantasia? Em nossa infância, todos nós já sonhamos em ir para a Terra do Nunca, Nárnia ou o País das Maravilhas para viver aventuras incríveis. Também era o sonho da pequena Gertrude, protagonista de Eu Odeio Contos de Fadas (I hate Fairyland), cujo primeiro volume, Insanos para sempre, foi publicado pela Hyperion Comics. Mas depois de chegar naquele mundo mágico, a garota, naturalmente, só queria ir para casa. A rainha Núvia explicou que tudo o que ela precisava fazer era encontrar uma chave que abriria a porta de volta ao seu mundo… uma missão que Gertrude vem realizando há 27 anos. E um aviso, não há nada de bonitinho nesse tempo todo, pois agora a protagonista é uma mulher de quase quarenta anos presa em um corpo de seis anos, muito enfezada por esse tempo todo procurando essa maldita chave.

Aqui somos todos loucos
Eu sou louco, você é louco, todos somos loucos! Se nâo fôssemos loucos não estaríamos aqui.” O gato de Cheshire disse essa frase para Alice e definiu muito bem o espírito do País das Maravilhas, um lugar incrível e às vezes um pouco perturbador. Em Eu Odeio Contos de Fadas, Skottie Young leva esse conceito ao extremo, sem poupar violência e humor negro.

Gertrude, como dissemos, ainda está na Terra das Fadas quase três décadas depois, ainda com a mesma aparência de uma adorável criança de 6 anos. Mas agora Gert é uma mulher adulta que odeia profundamente o lugar e se tornou uma psicopata violenta e perturbada, com a única motivação de encontrar a chave a qualquer custo. Ela não tem vida fácil, e não lhe faltam oponentes como a própria rainha do País das Fadas, farta do caos que a protagonista está semeando em seu pacífico reino.

Com esses ingredientes, temos um toque retorcido e sádico nos contos de fadas clássicos e no capricho infantil. O contraste exagerado entre o mundo feliz, repleto de elementos tradicionais de fantasia, e a espiral de caos e violência desencadeada pelo protagonista é tão chocante quanto divertida. Os personagens secundários são igualmente engraçados, como o bichinho que acompanha Gert como guia e consciência: um clássico das histórias infantis que nesta ocasião é representado pela mosca Larry, um indivíduo farto de seu trabalho que passa o tempo fumando e fazendo comentários cínicos ao seu suposto protegido.

A arte da violência


A arte de Young é excelente e bem adequada à história. Seu estilo é bem conhecido por qualquer fã de quadrinhos acostumado com seus personagens infantis e de desenho animado (Oz, Rocket Raccoon). Aqui o autor mantém esse estilo sem cortar a representação da brutalidade da violência, razão pela qual muito do humor negro neste quadrinho está justamente na parte visual, e não nos diálogos. Além disso, o nível de detalhe é magnífico, e vale a pena não perder nada em cada quadro. A cor, de Jean-François Beaulieu, é essencial em Eu Odeio Contos de Fadas. Toda a extensão do arco-íris está espalhada por suas páginas em tons claros e saturados., que às vezes as cores são suavizadas com nuances de tons pastéis e outras se tornam tão exageradas quanto a história que acompanham.

Não espere um desenvolvimento profundo do caráter ou uma mensagem subliminar. Esta é uma comédia cheia de originalidade e criatividade para rir de tudo e apreciar o desenho fantástico. Não vamos esquecer que Eu Odeio Contos de Fadas é apenas isso, uma sátira exagerada, um conto hilário que se baseia no humor negro e que provavelmente nem todo mundo gosta. Se a violência não te incomoda, se você sempre gostou de memes que tiram sarro da Disney e se o humor negro te faz rir alto, esse é o seu quadrinho ideal.

A edição inclui as cinco primeiras edições da história. Embora o arco deste primeiro volume se encerre (e de fato a ideia de Skottie Young no início era criar uma série limitada), as aventuras de Gert continuam. Atualmente, é uma série regular na Image Comics e por aqui foi publicada pela Hyperion Comics em uma edição de 140 páginas. Inclui um prefácio em formato de poema do Marcelo Naranjo que apresenta a narrativa e a tradução é do Levi TRindade e do Mario Luiz C. Barroso. Se for o seu estilo de história, valerá absolutamente a pena. Uma história louca, engraçada, visualmente bonita, Hack and Slash animal e com novos palavrões.