Review | Crônica da estação das chuvas, de Nagai Kafu

Review | Crônica da estação das chuvas, de Nagai Kafu

Crônica da estação das chuvas, obra do escritor japonês Nagai Kafu escrita em 1931, trata da vida noturna da cidade de Tóquio do início do século XX. Descortina as relações obscuras estabelecidas no agitado bairro de Ginza. O amor e o interesse, o adultério e o mundo das gueixas e prostitutas são os pilares sobre os quais se sustenta a narrativa ácida de Kafu.

A prostituta Kimie, personagem central, ao ler em uma revista de má fama um artigo que expunha sua intimidade, começa a estranhar a série de reveses e acontecimentos incomuns que, coincidentemente ou não, passam a perturbá-la. Decide procurar um vidente, numa tentativa desesperada de descobrir a causa dos infortúnios. A partir daí, encadeia-se a trama e é dada ao leitor a possibilidade de desenovelar lentamente a narrativa e compreender o complexo tecido dramático que se forma ao redor da veleidade da protagonista.

Nagai Kafu, foi um dos nomes fundamentais do modernismo japonês

Para quem pensa que a história vai mostra o cotidiano das gueixas, como em outros livros, Crônica da estação das chuvas tem isso e muito mais, só que ultrapassa esse tema comum na literatura japonesa, fazendo um retrato misterioso, melancólico e solitário da condição humana. Nagai Kafu aplica as cores fortes de sua prosa sobre a tela delicada da estação das chuvas; contrastando com a suavidade da brisa e da garoa que umedecem cada página, desfilam ao rés do texto a ambição, o ódio, a vingança de personagens transtornados e enlameados pelo modo de vida torpe do submundo. A obra constitui um precioso panorama de uma Tóquio parcialmente extinta, aquela onde se misturavam prazeres pagos, teatro kabuki e nô, becos soturnos e vielas enlameadas, e cuja pujante alegria de viver seria em breve abafada pelos anos de intolerância e guerra.

Um romance policial com toque kafkiano, claro retrato do modernismo japonês, onde a razão de uma das personagens em está viva é resgatar gatos desaparecidos. E os personagens são desenvolvidos à margem da sociedade, ao extremo, mas com um tom mais poético e realista, o que pode causar um ônus, pela maneira de aproximar a vida real a sua narrativa ficcional.

É delicado em mostrar o cenário daquelas mulheres, descrevendo os sentimentos de pessoas comuns, mas em especial velhos, que como um ensaio com a velhice, trágico ensaio que vê tudo numa prioridade até mesmo o cuidado de uma prostituta. Mas Kafu vai além disso, o jeito japonês, a existência comum, sem propósito, da estrutura rasa de seus personagens gera uma complexidade contextual incrível.

Nagai Kafu descreve o cenário de uma forma bastante exagerada, o que pode afastar o leitor não acostumado, mas cria uma atmosfera simples em sua trama que entrelaça a vida dos personagens e nos levando a um mundo de traições, ciúmes, bebidas e prostituição.

 

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