A primeira edição de Capitão América (Panini, abril/2019) de Ta-Nehisi Coates e Leinil Yu mostrou pra que veio. Uma pegada mais realista, que aborda o choque da opinião pública dentro do arco narrativo do personagem. Após os eventos da saga Império Secreto, a mudança radical de Steve Rogers, levou a cogitar como o Universo iria tratar o personagem como um todo após o retorno do herói. Sua vida não está sendo fácil, após lidar com uma Hydra ressurgente, descobre que existe uma outra organização trabalhando secretamente para destruir a América. Mas, por mais que Cap queira ajudar, parece que todos não confiam mais nele.
Coates e Yu, juntamente com Gerry Alanguilan (arte-final) e Sunny Gho (cores), oferecem uma história bastante interessante em páginas que continuam fantásticas. A narrativa continua colocando o personagem Steve Rogers contra si mesmo, questionando o mundo em que acordou e por que as coisas começaram a dar tão errado. Coates aproveita para fazer uma crítica artística do espectro político do mundo real através das lentes de um mundo em que as apostas, felizmente, não são reais.
Essa edição traz as histórias das edições de Captain America #2 e #3, com o arco Winter in America que progride bem, em termos de narrativa e desenvolvimento de personagens, mas ainda não tão convincente. Pois, por mais temático que seja, o roteiro progride de maneira muito semelhante – quase idêntica, tanto na edição anterior, quanto neste segundo volume.
Na primeira narrativa (Captain America #2), a ação começa, logo após os eventos da edição anterior, onde outro esquadrão de Bazucas é enviado para causar numa reunião em Chicago. O Capitão está lá para detê-los. Enquanto essa luta segue, Steve tem um monólogo interno sobre sua situação peculiar, que o leva de volta às suas raízes. Tudo que as pessoas lembram é a Hydra e logo, os próprios militares o fazem lembrar que não se metesse em negócios do governo. Coates termina a edição levando o herói para Wakanda, definindo como o mundo vê nosso Capitão no momento.
Já na segunda narrativa (Captain America #3), o veterano herói da 2ª Guerra Mundial visita uma região que foi controlada pela Hydra, onde manipulou as pessoas anteriormente vulneráveis e esquecidas, em um senso de lealdade por meio de assistência médica gratuita, uma economia em expansão e menores taxas de criminalidade. Dando o que eles queriam, porém embora a vida seja aparentemente perfeita para essas pessoas, em meio a isso havia vidas que estavam sendo destruídas por esses mesmos “salvadores”. Uma reflexão bem usual para os ditames fascistas dos dias de hoje. Além dessa dicotomia, a inteligência wakandense descobre um vínculo entre uma poderosa corporação, a atual estrutura do governo e a criação constante de clones de Bazucas usados como terroristas. Com o Pantera Negra e a general Okoye, o Capitão encontra amigos e Coates une outro título que escreve para contar uma conspiração cheia de linhas tênues
Yu continua a fazer uma arte incrível, algo bem esperado de uma HQ do Capitão América. Ricamente detalhada, disposta em um belo layout de painel que espalha a arte por cada página, oferecendo aos leitores um formato constante para todas as direções. E, claro, não seria uma história em quadrinhos do Capitão América de alta qualidade sem algumas páginas de ação vívidas. Arte-final e cores bem mescladas, fornecendo o equilíbrio perfeito para a série.
Coates continua trazendo questionamentos sobre os EUA como nação e o que o Capitão América está defendendo. Isso nos faz pensar e debater o que realmente é a América. Além disso, muita ação, espionagem, conflitos nucleares e mistérios para todos os gostos, aguardemos o próximo volume.