SINOPSE: Há meio século que eles cortam os céus atravessando países na procura dos raros dragões. O Quin Zaza é uma das poucas naves ainda em atividade na caça aos dragões. Cada um da tripulação tem suas próprias razões para estar nessa atividade. O de Mika, por exemplo, é comer a carne de dragão que ele adora! Sempre perseguindo presas de qualidade cada vez mais superior, eles seguem nessa emocionante jornada!
A imagem fantástica do dragão sempre acompanhou a humanidade. Uma criatura mitológica presente em diversas culturas pelo planeta e cuja figura varia de acordo. Como também seu simbolismo. Ou seja, enquanto no Ocidente o dragão é configurado como uma entidade do pecado e do caos, uma figura sempre associada à luta e à guerra. No Oriente a conotação é radicalmente oposta. Sua simbologia está mais próxima de boa sorte e proteção, sendo essas entidades representantes das forças primitivas da natureza. Dragões são seres de incrível poder e conhecimento, reverenciado e consagrado como parte cultural de acordo com alguns países. É curioso observar como o conceito dessa criatura varia tanto de uma cultura para outra, tanto na aparência quanto no significado. Mas também é curioso como diferentes autores moldam histórias e criam universos tão diversos quanto são excepcionais com a inclusão desses animais.

É assim que Taku Kuwabara cria em Caçando Dragões (Kuutei Dragons) um universo onde os dragões voam nos céus à mercê do ímpeto da destruição humana. Uma ficção que oferece um design bastante peculiar para essas criaturas. Caçando Dragões é um seinen com uma interessante amálgama de gêneros, seriada em 2016 nas páginas da good! Afternoon (Kodansha). Com um total de oito volumes já publicados no Japão, a Panini traz uma obra que se destaca pela arte, como vamos mostrar neste review.
Análise de Caçando Dragões #1
Há poucos dragões agora. Espécimes de anatomia diferente continuam a cruzar os céus indolentes às forças da natureza. Fugindo, sobreviventes da perseguição que sofreram. Um dos poucos navios-dragão, o Quin Zaza, permanece ativo para caçar essas criaturas fantásticas. A razão dos membros da tribulação varia; pela herança familiar, pelo estilo de vida, pelo frenesi do perigo, pelo mero acaso do destino ou, simplesmente, pela possibilidade de provar a carne requintada daquelas criaturas. E este é o caso de Mika, o protagonista do mangá, um cara fanático pelas bestas,que se diverte caçando-as e é louco por sua carne, uma iguaria ímpar, pelo qual está disposto a colocar sua própria vida em risco. O navio-dragão é o eixo de uma pequeno grupo de caçadores de dragões em busca de riqueza, aventura e sonhos.
Caçando Dragões traz uma mistura de gêneros, mas não foge da regras de um seinen. Seu mangaká soma os elementos principais de seu universo particular, sem saturar o leitor com muitas informações, diluindo aos poucos seu script, apresentando pouco a pouco a vida cotidiana de seus protagonistas. Um elenco acostumado a viver entre as nuvens, mas que visita as cidades abaixo, a fim de buscar suprimentos e vender as partes preciosas de suas presas. Mas não podem entrar nas mesmas, pousando sempre fora. Neste cenário, o dragão é uma criatura que absolutamente se aproveita tudo. De sua carne e ossos, à gordura e óleo e, devido à sua condição quase extinta, o preço pago por essas peças é extremamente alto.
Kuwabara leva seu leitor a um mergulho em seu universo fantástico, ambientado em um hipotético século XVII, no qual a profissão de caçadores de dragões poderia ligada aos dos baleeiros da nossa realidade. Tudo isso num estilo steampunk, principalmente no design de armas, roupas e navios voadores. A trama neste primeiro volume não apresenta um grande objetivo a seguir ou problema a resolver, mas apresenta bem o exotismo e a peculiaridade da narrativa.
Refletindo sobre esses aspectos a narrativa recai sobre seus personagens. É notório que os dragões são essenciais como elementos narrativos, mas a diegese está nos humanos. Em suas motivações, sonhos e realizações. Temos neles um esforço de construção do autor para fazê-los transmitir um maior grau de proximidade. Kuwabara não foca apenas no protagonista, mas em alguns de seus companheiros, como a novata Takita, que nos leva a descobrir sobre o estilo de vida daquele grupo. Mika tem um claro papel de liderança, mas mesmo sem referências de seu passado ou o porquê de sua obsessão por dragões, seu entusiasmo pelos dragões encanta como se fosse um jovem Ahab efuso por Moby Dick. o Giraud e a Vanney são os opostos que se completam, um, sempre empolgado, o outro, sempre com com dúvidas sobre suas ações.
Esse primeiro volume é a entrada para este cenário e uma história que não se destina a ser confinada a um único gênero. E indo além, com um componente gastronômico, como em Golden Kamuy de Satoru Noda, uma faceta pela qual os japoneses parecem ter uma grande predileção. No caso de Taku Kuwabara, afasta a épica dos confrontos com os dragões e delinha detalhes de receitas de pratos, sem convencionalismo. O que acarreta um obstáculo para leitores enraizados nas histórias mais clássicas. Outro aspecto controverso e polêmico é a clara inspiração do autor na baleação japonesa, que recentemente ganhou os noticiários pelo retorno da caça comercial.
Mas, sem dúvida, o que mais marca neste mangá é sua arte. Caçando Dragões é um exercicio de poder estético. É lindo, um traço requintado, com influências claras de Hayao Miyazaki. Kuwabara consegue através de seus desenhos transmitir toda a aura de fantasia que permeia sua obra, além de compor os sentimentos e emoções de seus personagens num conjunto de expressões bastante detalhadas. Cenas áereas são belissímas, a variedade de criaturas aladas é fluem no layout do mangaka. Um traço que se baseia mais na corrente oriental e que representa um bestiário composto por seres com uma clara evocação para a fauna marinha. Um imaginário que se afasta da imagem usual do dragão.
Durante a Anime Friends de 2019, a editora Panini anunciou o lançamento desde mangá, que coincidiria com o anime da Netflix. Uma obra de fantasia, de grande beleza artística e narrativa não convencional. Caçando Dragões # 1 com 208 páginas em preto e branco e, infelizmente, nenhuma em cores. No formato B6 (20 x 13,4 x 1,4 cm), rústico com sobrecapa. Um tamanho ideal para poder apreciar adequadamente a arte que o título exibe. A capa atinge um grande impacto visual devido ao seu design e variedade de cores; respeitando ao máximo o original japonês; deixando a localização do título e o nome do autor inalterados e alterando apenas a numeração do volume. A capa apresenta vários membros do Quin Zaza, com o foco no personagem de Mika e um dos dragões da peça. A tradução de Dirce Miyamura segue perfeita como em outros mangás.
Caçando Dragões # 1 foi lançado em setembro de 2019, no selo Planet Mangá. Este primeiro volume tem um total de cinco capítulos que narram os primeiros eventos do título, permitem conhecer com os personagens principais e alimentar a chama da curiosidade e interesse em saber como continua essa história peculiar de dragões e bucaneiros aéreos.
Em suma, temos uma saga sobre caçadores, entretida e imaginativa abordagem, mas esperamos que siga um caminho menos convencional, que não seja somente aa aventuras de uma nau que caça animais e o cotidiano de sua tribulação. Há potencial e aguardamos o próximo volume para ver onde a narrativa seguirá.