Review | A Revolução dos bichos, de George Orwell

Review | A Revolução dos bichos, de George Orwell

Li a 57ª reimpressão de A Revolução dos Bichos da Editora Companhia das Letras e, com essa leitura, meu primeiro contato com George Orwell. O que eu achei disso? Sensacional é pouco para descrever, mas quero ser sucinta, então terá que servir.

Sinopse: Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, ‘A Revolução dos Bichos’ é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos. Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista.

De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stalin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos – expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História – mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, a obra passou a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell repetiria o mesmo gesto anos mais tarde com seu outro romance 1984, finalizando-o às pressas à beira da morte para que o mesmo servisse de alerta ao ocidente sobre o horrores do totalitarismo comunista.

É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens. Escrito com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift seu representante máximo.

Tive que estudar um pouco sobre a ditadura stalinista para compreender certos detalhes do livro, mas foi algo bem gratificante de se descobrir. O livro, uma clara crítica ao governo de Stalin, que acabou culminando no ‘todos somos iguais, mas alguns são mais iguais do que outros’, acaba por ser extremamente atemporal, servindo de crítica não apenas ao governo, não apenas à ditadura stalinista, e não apenas ao século XX, podendo ser aplicado a DIVERSOS momentos da história da humanidade.

Durante à leitura, consegui enxergar a construção de igualdade e de um meio de opressão que chega a deixar o povo tão ignorante (de não saber mesmo) que chega a ser assustador. Vendo de fora é fácil perceber o que está errado, a manipulação dos animais do rancho, que foram iludidos por uma ideia de liberdade e igualdade e acabam sendo escravizados por seus semelhantes, e de se compreender que é difícil para quem está naquela situação visualizar tudo o que está errado e acabar com tal sistema.

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Adaptação animada de A Revolução dos Bichos

Não só uma crítica ao governo, mas consigo ver claramente esse tipo de estrutura em diversas religiões – algumas igrejas de certas religiões, em locais de trabalho, em famílias e na própria política, onde as pessoas são enganadas por palavras em promessas assim como Garganta engana os animais com números e estatísticas que poucos entendem, mas acreditam mesmo estar melhorando, mesmo que a própria condição esteja piorando. Além disso, a demonização do adversário, como no caso do Bola de Neve, que sequer está mais presente, mas a culpa de tudo o que há de errado e todas as intempéries recaem sobre ele (Isso não lembra algumas coisas que vemos hoje?).

A figura e a demonização de Bola de Neve foi um dos aspectos do livro que mais me chamou a atenção, visto que, mesmo em escalas menores, ou mesmos quando estamos sozinhos, nunca atribuímos uma falha a nós mesmos. Sempre buscamos um meio de culpabilizar outras pessoas, mesmo que elas sequer estivem presentes nos momentos de erros. Enquanto pensava nisso, me lembrei de uma passagem de Lúcifer nas HQs de Sandman, especificamente no arco ‘Estações de Brumas’.

Trecho de Sandman – Estação das Brumas

A apatia dos animais diante de tanta injustiça com eles próprios é algo que me choca, mas não me surpreende. Acabei refletindo sobre isso quando li Querem nos Calar. Nós, hoje, passamos a nos preocupar muito mais em chegar em casa rápido e reclamar do trânsito do que nos preocupar na vida do acidentado que parou o trânsito. Sequer nos preocupamos, passa a ser mais um corpo. Até porque, em muitos casos, se procurarmos nos rebelar, nós mesmos nos tornaremos outro corpo atrapalhando o trânsito, e só.

A revolução dos bichos é uma leitura obrigatória para todas as pessoas é o que eu diria sobre esse livro. Além de nos ajudar a refletir sobre o mundo que nos rodeia e de como podemos ser manipulados com ideias tentadoras, mas que são corrompidas por quem as coloca em prática, ajuda-nos a nos tornar mais críticos em relação a discursos em geral, sejam políticos, religiosos, partidários ou por uma causa ‘nobre’. Sempre devemos nos lembrar do nosso passado e saber enfrentar com sabedoria o futuro, para não cometermos os mesmo erros de sermos enganados por quem julgamos iguais, mas, que no fim das contas, tornam-se como os antigos opressores.

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