Com a chegada da famosa saga literária pela Netflix, como uma série, tendo a criadora e produtora Lauren Schmidt (Demolidor, Os Defensores e The Umbrella Academy) a frente , trazer um pouco deste icônico personagem criado por Andrzej Sapkowski em meados dos anos 1980 é bastante relevante ao momento antes da estreia.
O universo de fantasia alcançou fama internacional, por trazer uma linguagem adulta e uma transição incrível de gêneros literários, abordando temas como política, cultura, sociedade, entre outros, indo da comédia à tragédia. Mas o personagem ganhou celebridade mesmo com a série de videogames desenvolvidos pela CD Projekt RED a partir de 2007, e cujas histórias foram baseadas no universo e nos personagens criados por Sapkowski, além de uma série de origem polonesa (2002) estrelada por Michal Zebrowski.
Mas nesse artigo concentraremos na saga escrita, com oito livros já lançados, que começa com um conto Wiedźmin (O bruxo), escrito para um concurso literário de uma revista polonesa em 1986. Em 1993, foi publicado O Último Desejo, que se inicia uma estrutura lógica no universo de Geralt de Rivia. Este e A espada do destino (1992) são os prólogos da história, uma estrutura geral que introduzia o leitor nos reinos e nos personagens.
A Odisseia de Geralt de Rivia
Geralt de Rivia é um bruxo que confronta forças extraordinárias, como monstros e todos os tipos de criaturas que os seres humanos não conseguem. Um caçador de recompensas, o “Gwynbleidd”, o Lobo Branco, legado de uma ordem que o treinou para isso. Filho da feiticeira Visenna, que o levou a Vesemir em Kaer Morhen — reduto dos bruxos da escola do lobo. Lá foi treinado como feiticeiro e espadachim e submetido a experimentos que lhe deram habilidades sobre-humanas para enfrentar os monstros. A história do protagonista é uma odisseia sem fim definida, pelos reinos, principados e terras estranhas, sempre atrás da próxima criatura a ser derrotada e na qual descobrimos outros personagens distintos, tipos de seres extraordinários e a história das terras que habitam.
A saga de Andrzej Sapkowski deriva dos mitos eslavos e germânicos em particular e os europeus em geral. As referências literárias são bastante variado: do épico clássico, do herói e sua jornada, como Jasão ou Odisseu, como também as sagas nórdicas de párias e a fantasia evocativa de terras fantásticas, como as criadas por JRR Tolkien ou George RR Martin. Mas não é uma ode para as aventuras do protagonista, é uma história sangrenta e suja sobre a humanidade e sua falta. Geralt é concebido pelo autor numa perspectiva frente ao desprezo das ações covardes, da arrogância dos reis e sua visão do mundo e de seus habitantes. Cada história é apresentada diante das criaturas míticas, mas se atrela ainda o preconceito e a ignorância do homem, a traição e a incompreensão do extraordinário. O próprio personagem é temido e odiado e sua atitude cínica e indolente, com um senso de humor distorcido e pouco dado à socialização é uma resposta a isso. E ainda tem o ponto que ao tentar se aproximar de alguém, é uma tragédia anunciada e sombria que o deixa mais como um suspeito do que como um herói que salva o dia.
Um herói trágico, que compartilha com as criaturas que combatem a mesma ascendência prodigiosa, bem como por suas ações, que, sendo mal explicadas, são muitas vezes incompreendidas.
Dos reinos e criaturas
Muitos dos seres fantásticos vem do folclore eslavo, releituras como o Kikimora, o Strzyga (vampiro da mitologia polonesa), a divindade Veles, entre outros e como também aqueles já conhecidos: gnomos, elfos, anões, dríades, etc. O cenário é uma colcha de retalhos, um gigantesco quebra-cabeças de reinos, principados, ducados, condados, etc; como emulasse o Sacro Império Romano medieval. Também coexistem as antigas raças (anões, elfos, gnomos, entre outras) que meio milênio antes governavam todas as terras da era vivida por Geralt, mas que agora sobrevivem em guetos ou escondidos nas regiões montanhosas. Além disso, temos o Império Nilfgaard ao sul que emula o Império Romano em muitas de suas concepções, que até são vistas como mais civilizadas, sendo um forte inimigo dos protagonistas.
Sapkowski cria, assim, uma narrativa de aventura de fantasia épica, com bastante ação e um dark noir que leva a uma saga fantástica. Personagens realistas, controversos, com monstros muitos mais terríveis entre os homens do que as criaturas que Gerald de Rivia caça. Um universo fantástico que Geralt de Rivia nos leva, numa releitura de mitos e tradições, como também da condição humana em suas ações. Muito mais perto do estilo fantástico de Game of Thrones do que o idílico The Lord of Rings, The Witcher é uma interessante jornada literária que terenos transferida para o serviço de streaming, estrelando Henry Cavill.
Espero que cumpram isso.