Em 1935, Malcolm Wheeler-Nicholson, um escritor de revistas pulp, acabava de começar sua pequena editora de quadrinhos. Seguia a onda dos títulos daquela década que compilavam as tiras de quadrinhos dos jornais. Só que o editor fez diferente, no lugar de reimprimir as tiras dominicais como todos os demais, decidiu dar um passo adiante. Ele publicaria a primeira revista mensal contendo material todo original. Igualmente significativo é o fato de que, enquanto muitas outras editoras fechavam, a National Allied perseverou e, com alguns solavancos, acabaria se transformando na DC Comics. A primeira HQ era a New Fun: The Big Comic Magazine, e fez história, entre as várias histórias apresentadas tínhamos a Sandra of the Secret Service (Sandra do Serviço Secreto), criada por Charles Flanders (1907-1973).
Em relação à personagem em questão, seu significado, além de ser a história principal do primeiro gibi em circulação, também foi a primeira heroína dos quadrinhos. Ela não era a namoradinha dos protagonistas, nem a irmã, nem a femme fatale que tentava minar a bondade/vontade do herói ou a bela que estava sempre em perigo, precisando ser resgatada. O seu criador já tinha um nome como cartunista da King Features Syndicate desde 1928 e Wheeler-Nicholson o contratou para desenvolver adaptações de clássicos e histórias originais. O militar e também roteirista queria um protagonista diferente e assim deixou Flanders de certa maneira livre para desenvolver sua história de espionagem com uma personagem a frente. Uma heroína genuína, dinâmica e proativa que não precisa ser resgatada por homens.
Sandra era uma agente do Serviço Secreto, mas não o órgão do Governo dos EUA que conhecemos, aquele que foi Departamento do Tesouro e atualmente fazendo parte da Segurança Nacional, mas um nome genérico para algum departamento de inteligência da época. O qual nunca é revelado, mas, como é de se esperar, tem sede em Washington, DC. Antes de se envolver na espionagem e em intrigas internacionais, Sandra McLane era uma jovem solteira, uma Socialite de Nova Iorque, que por ventura é atlética, perspicaz, engenhosa e muito corajosa. Após ser atacada por um assaltante e rechasado com facilidade é contactada pelo Serviço Secreto e se tornando a Agente Número 37. Sandra foi uma das primeiras personagens de série nos quadrinhos, aparecendo em More Fun Comics # 1 (1935), apareceu pela última vez em More Fun Comics # 35 (1938).
Suas aventuras são muito semelhantes às tirinhas de jornais, com o tamanho dos painéis já moldados. O ritmo também é muito parecido com uma tira diária, compreensível, sabendo que a editora e, mais importante, os escritores e artistas estavam acostumados a esse tipo de trabalho. Como vários escritores/artistas diferentes estiveram envolvido, não temos muita informações sobre a personagem em si, sendo só suas aventuras a base do nosso artigo.
Histórico do Personagem
Após ser recrutada como espiã depois de interromper uma tentativa de assassinato e, durante toda a sua carreira como agente secreta, faz um trabalho digno de crédito. A primeira história serializada vai dos números 1 a 13, quando Sandra, no verdadeiro estilo Prisioneiro de Zenda, uma aventura de Anthony Hope, personifica a princesa Yonda da nação européia de Gavonia, impedindo um assassinato. No final da história, a verdadeira princesa pede sua ajuda para resgatar seu companheiro, que foi capturado pelo país vizinho (Resbia), que cobre as edições 14 a 18. Enfrenta a máfia e conspiradores internacionais, como fabricantes de armas na história The Brain (1937), de Will Ely. Durante as décadas de 1920 e 1930, a ideia de que os fabricantes de armas eram responsáveis por criar guerras foi generalizada. E os quadrinistas os usaram em algumas histórias importantes, como no conto de origem de “Revolution in San Monte”, de Superman, Siegel e Shuster (Action Comics # 1,2, 1938). Nessa história, um grupo planejavam colocar as nações da Terra em guerra umas com as outras. “The Brain” é um importante trabalho político na história dos quadrinhos. É um dos primeiros contos políticos das HQs.
Como já mencionado, as aventuras de Sandra a colocaram em várias “primeiras” categorias. A mais importante é ter sido a primeira heroína a sediar sua própria série. Com o tempo, um número razoável de novos personagens femininas aparecerá, mas a maioria sendo super poderosa. As poucos que não são fantasiadas tendem a ser repórteres ou policiais. E Sandra continua sendo uma das poucas agentes de espionagem feminina, como a conhecida Viúva Negra (Natasha Romanov).
A personagem teve sua última aventura no final da década de 1940, confrontando a Máfia na Flórida em More Fun Comics # 32-35. Mas há uma citação que a coloca mais tarde, nos anos 1950, como diretora do Serviço Secreto. A versão da personagem, incluindo toda a história e aparências correspondentes, foi descontinuada após o colapso do Multiverso original na Crise nas Infinitas Terras. Uma personagem que abriu um caminho para tantas outras personagens e que foi pioneira, mesmo com simplicidade, a igualdade de gênero.