Os monstros vendem. Sua natureza trágica inspira leitores e inflama a empatia por personagens que se afastam do arquétipo do herói. Exemplos como os filmes da Universal, que exploraram uma bateria de monstros (Drácula, Frankenstein, o Monstro da Lagoa Negra, A Múmia, O Lobisomem …), a fim de causar medo nos espectadores, mas também vale pelas vidas que estão condenadas a sofrer. Sob sua deformidade, seu mal, se é que existe algum, subjaz a uma profunda insatisfação por si mesmos, ansiando pela humanidade que temos.
Em 1942, Harry Stein e Mort Leav criavam a Heap um criatura verde com forma humana que aparece em Fighters Air Comics # 3. Não seria até 1946, quando o personagem ganha relevância suficiente para aparecer regularmente na AirBoy Comics, desapareceu em 1952 (capa ao lado). Então, devemos responder que antes do Monstro do Pântano, Heap foi o germe precursor do arquétipo que deu tão bons resultados à DC, como também à Marvel, com o Homem-Coisa.
Foi no ano de 1971, na House of Secrets, uma HQ antologia de mistério, fantasia e terror, O Monstro do Pântano surgia, um personagem que estava destinado a se tornar um símbolo e lenda de uma nova forma de fazer quadrinhos. Len Wein e Bernie Wrightson foram seus criadores e trazia a primeira versão do personagem.

Wein teve a ideia para o personagem enquanto andava de metrô no Queens, e como não tinha um nome, se referiu como ‘aquela coisa do pântano em que estou trabalhando‘. Swamp Thing, foi o nome que ficou, Wrightson projetou a imagem visual do personagem, usando um esboço de Wein como uma diretriz e assim surgiu o Monstro do Pântano e suas versões, que iremos abordar abaixo.
ALEX OLSEN, o primeiro Monstro do Pântano
Alexander ‘Alex’ Olsen era um cientista brilhante que viveu nos primeiros anos do século 20. Quando era jovem, conheceu e se apaixonou por Linda, que se tornaria sua esposa. O assistente de Alex, Damian Ridge, embora fosse seu melhor amigo, ele não suportava vê-lo vivo em felicidade com a mulher que secretamente amava. Assim, aproveitando um momento, Damian trocou as substancias químicas de um projeto de Olsen, matando-o na explosão. O traidor arrastou o corpo de Alex da casa até um pântano próximo, despejando seu corpo naquele local. Ridge usou a dor de Linda para convencê-la a se casar com ele, mas com o tempo, Damien suspeitou que Linda descobrira sobre o assassinato de seu ex-marido. O que nenhum dos dois imaginavam que Alex Olsen não estava realmente morto. Seu corpo reage quimicamente com a vegetação pantanosa, transformando-o numa criatura disforme. Movido pela vingança, Alex investiu contra a mansão, matando facilmente Ridge. Entretanto, Linda não o reconheceu e fugiu deixando Olsen desolado. Perdido e sozinho abandonou sua existência no passado e preferiu viver em solidão nos pântanos que se tornariam sua casa.
Em 1937, o Monstro do Pântano/Alex Olsen desiste da humanidade, e de maneira lenta se entrelaçava ao Parlamento das Árvores onde mais tarde encontraria o seu antecessor direto que trataremos a seguir.
ALEC HOLLAND, o Monstro do Pântano
Logo, editorialmente pensou-se em uma série regular para o personagem, o que os editores ofereceram a Wein e Wrightson que saiu em 1972: The Swamp Thing Vol.1. A história tinha pequenas modificações a partir do original: entrava o Alec Holland, em vez de Alex Olsen, e a tentativa de homicídio ocorreu por causa de uma pesquisa (e não ficar com a esposa). Alex estava trabalhando em seu laboratório em um produto químico bio-restaurador que poderia resolver os problemas de escassez de alimentos no planeta, tudo mudou quando uma organização criminosa colocou uma bomba em seu escritório. A explosão jogou Holland no pântano coberto de queimaduras e com sua fórmula. O que aconteceu é o encontraremos na nova série, um híbrido de homem e planta. O personagem surgiu numa época que a explosão populacional era um medo real e muitas narrativas fictícias apareciam naquele período.
O título teve 24 edições, publicadas de 1972 a 1976, e nele apareceram personagens que acompanharam o Monstro do Pântano ao longo de sua existência. Como um dos seus vilões mais recorrentes, Anton Arcane, obcecado com a ideia de imortalidade, acreditava que The Swamp Thing era uma fonte possível. Junto com ele vieram os Não-Homens (Un-Men), o Patchwork Man, o agente do governo Matt Cable e a sobrinha de Anton, Abby Arcane, que se tornaria a esposa do protagonista. Quando as vendas começaram a cair no fim da série, os escritores tentaram reviver o interesse introduzindo temas absurdos nas histórias. Com o advento da segunda série, todos os eventos foram ignorados e banidos da continuidade.
Em 1982, com Len Wein agora como editor, a série retoma, após o sucesso razoável do filme de mesmo nome dirigido por Wes Craven (diretor entre outros de Pânico e da série A Hora do Pesadelo), como Saga of the Swamp Thing. Os responsáveis eram Martin Pasko e Dan Mishkin. Os primeiros vinte números não seriam muito interessantes até a chegada de Alan Moore, que assumiu na edição # 21, e recebeu liberdade criativa para fazer o que quisesse com o personagem.
O número 22 Moore apresenta a Corporação Sunderland contratando Jason Woodrue, O Homem Florônico, um outro híbrido vegetal-humano, para realizar uma autópsia no Monstro do Pântano. Durante o processo, o vilão descobre que o monstro não é Holland, pelo contrário, é uma planta que pensa ser Alec Holland, que morreu no pântano, e a fórmula permitiu que as plantas o consumissem, inclusive, suas memórias. E a história ganhou um novo rumo, se expandindo consideravelmente. A existência de vários outros Monstros do Pântano vem à luz e que a encarnação de Holland foi apenas a última. Esses seres eram defensores de algo chamado Parlamento das Árvores, um grupo de entidades que governam o Verde, uma dimensão que conecta toda a vida vegetal na Terra.
Na edição #37, Moore apresenta o Hellblazer, John Constantine, personagem que alcançaria grande fama e então teria sua própria série mensal.
Moore ficou a frente do título, do 21 ao 64, quando Rick Veitch assumiu. Alan Moore deixaria a série para se dedicar a Hellblazer. Veitch ficou até o número 88, saiu chateado por que a DC não o deixou publicar uma história onde Jesus Cristo aparecia. Doug Wheeler assume, apresentando a filha de Swamp, Thing and Abby, chamada Tefé Holland e a série ganha um outro impulso quando Nancy Collins toma as rédeas da Swamp Thing (110 a 138).
Nancy levou o personagem de volta ao mundo metafísico. Queria restaurar o terror e reviveu até antigos vilões como Anton Arcane. Além de aprofundar a vida do Monstro do Pântano com a família e os problemas ecológicos atuais.
Após a saída de Collins, Grant Morrison e Mark Millar colaboram na série, dividindo o Monstro em dois seres: a criatura e o humano. A dupla ficou só 4 edições, fazendo série de aventuras contra os diferentes “parlamentos” elementares criados por Moore, juntando os elementos e tornando-se um elemento vegetal. Millar continua e sua fase de Millar era mais próxima das fases de Moore e de Veitch do que de seus predecessores, especialmente em seu uso de estrelas convidadas do universo DC mais tradicionais.A Saga do Monstro do Pântano chegaria ao fim no número 171, e o Monstro ficou inativo por alguns anos. Até que 2001 contrataria Brian K. Vaughan para escrever uma história centrada na filha do Swamp Thing, Tefé Holland. A série teve 20 edições. Tefé foi exposta aos Parlamentos antes de ela nascer, e isso a deixou como uma criança incomum com impulsos sombrios. Embora essa fosse uma ideia bem interessante, não ressoou com os fãs que estavam procurando uma história sobre o Swamp Thing.
Na 4ª Série, com Andy Diggle (#1–6), Will Pfeifer (#7–8) and Joshua Dysart (#9–29) temos tanto Alec como Tefé tentando reverter a sua forma de híbrido vegetal após o primeiro arco de histórias, e recuperar seus poderes sobre as plantas.
Na Saga O Dia Mais Claro o Monstro se tornou uma entidade corrompida, procurando destruir toda a vida na terra. Vários heróis surgiram para enfrentar a criatura e somente quando Alec Holland se tornou novamente o Monstro do Pântano foi que conseguiram derrotar a criatura maléfica. Restaurando a vida em áreas naturais ao redor do mundo e declarando que aqueles que ferissem o Verde enfrentariam sua ira.
Na 5ª série, título iniciado em 2011, a DC relança o personagem como parte dos Novos 52, com Scott Snyder (1-18 e anual), concluindo com um evento crossover entre Swamp Thing, Animal Man e Frankenstein e o agente de S.H.A.D.E, com Charles Soule a frente do título da edição 19 a 40.
E chegamos na sexta série, escrita por Len Wein, co-criador do personagem e ilustrada pelo lendário desenhista do Batman, Kelley Jones, que seria seu último roteiro para quadrinhos, numa minissérie de seis edições
CURIOSIDADES
Na verdade, com a série semanalmente sendo apresentada, o Monstro do Pântano já apareceu outras vezes, adaptados em live-action ou animação. Em 1982, Wes Craven lançou um filme com o personagem, estrelado por Ray Wise. Foi bem aceito pela crítica, mas não tanto pelo público.
Em 1989, The Return of Swamp Thing chegou aos cinemas, dirigido por Jim Wynorski e roteirizado por seu próprio criador, Len Wein, o filme não teve a mesma recepção que seu antecessor. Com efeitos especiais ridículos demais e um humor piegas, o filme foi um fracasso.
E entre 1990 e 1993, o personagem teve sua própria série de TV, pela Universal Studios, com Dick Durock assumindo o papel do Monstro do Pântano.
Ainda teve uma animação própria nos anos 1990, que trataremos em outro momento e apareceu em episódios de outras séries, como Liga da Justiça Sem Limite.
E atualmente temos a série live-action (2019), produzida por James Wan para o streaming da DC Universe, com dez episódios. Alec Holland é interpretado por Andy Bean e o Monstro é interpretado por Derek Mears. A série estreou em maio e no momento, que estamos finalizando este artigo, o sexto episódio está para sair. A série foi planejada para ao menos 3 temporadas, que se estenderia, porém infelizmente a Warner cancelou a série, surpreendendo a todos, produtores, equipe, crítica e público.