Batman é um personagem icônico. Adaptado várias vezes para o cinema, teve altos e baixos. E desde “Batman: O Cavaleiro das Trevas” de 2008 que o personagem e seus ilustres coadjuvantes não recebiam o devido tratamento nos cinemas. Depois da desastrosa experiência nas mãos do diretor Zack Snyder, sobrou para Matt Reeves a missão de recolocar o personagem nos eixos. Acertadamente, escolheu começar do zero.
Batman, um vigilante desiludido, embarca numa viagem de autoconhecimento, enquanto se aprofunda nas trevas de Gotham (que está imersa em violência e corrupção) para desvendar um mistério que aterroriza a cidade.
O filme começa com uma atmosfera de filme noir que serve como uma luva, conforme as cenas de ação vão surgindo, essa atmosfera vai se dissipando, mas de forma natural. A fotografia é opressora e, usando um belo jogo de luz e sombras, coopera para estabelecer o quanto o personagem principal é imponente, ameaçador e estranho.
Outra faceta do personagem, que fica em evidência aqui, é a detetivesca. Embora os mistérios não sejam tão desafiadores e as soluções venham de forma simples, a forma como são colocados e somados ao clima noir acaba conseguindo passar um desafio a ser vencido.
As cenas de ação são muito bem executadas, cruas e violentas. Em especial, há uma cena de perseguição que está entre as mais viscerais já feitas no cinema. Apesar de muito movimentada e escura (lembrando da fotografia opressora), a direção é cirúrgica e mostra exatamente o necessário.
No campo da atuação o grande destaque fica para o irreconhecível Colin Farrell, no papel do falastrão Pinguim. Paul Dano entrega um psicopata Charada com muita competência. Robert Pattinson é um ótimo Batman, com excelente fisicalidade e nuances no olhar, o personagem impõe respeito e caminha junto com aquilo que o roteiro pede. Como Bruce Wayne, já não funciona muito bem, mas parece ser mais por escolha de roteiro do que questão de atuação em si.
O ritmo do roteiro é frenético durante 80% de suas quase 3 horas de duração, o que é bom, mas por outro lado muitas informações são empurradas goela abaixo do espectador e alguns cortes na edição parecem bruscos demais. Numa cena o personagem parece ter sofrido uma fratura grave e, na seguinte, ele já está agindo como se nada tivesse acontecido. Nos seus 20% mais lentos, o filme perde muita força e fragilidades do roteiro ganham evidência, como o “sumiço” do seu principal antagonista, o Charada.
The Batman tem seus problemas que podem atrapalhar, mas não tiram o brilho de um filme que, em meio a tantos outros do personagem, tem muita personalidade.