Crítica | Peles

Estou eu as 02:15 da manhã perante a difícil missão de escrever mais uma resenha sobre um filme, digo isso visto que, quem segue o Mundo Hype e já me deu a honra de ler algum dos meus textos sabe que os filmes e livros que saem do óbvio me perseguem.

Mas eu não questiono, até gosto, afinal é tudo feito com tanta liberdade e com tanto sentimento de entrega que eu acredito que faz valer a pena. Talvez esse meu discurso sentimental se torna desnecessário a essa resenha, peço desculpas.

Digamos que minha ”Enrolação” é apenas para pegar intimidade com as palavras, intimidade com o texto a qual escreverei de forma bastante freudiana diga se de passagem. E talvez fique difícil a compreensão de muitos o meu texto, assim como o do filme, mas seria preciso eu ”Desenhar” toda simbologia do filme?

Acho que não, o papel do cinema e da arte em geral para mim só tem valor realmente se vem carregada de dúvidas e questionamentos. É preciso abalar os alicerces, nos tirar da zona de conforto e nos fazer entender além do ”La vie en rose”.

Então após todo esse meu discurso vamos pra sinopse:

Em uma sociedade regada pela cultura do visual, pessoas com diferenças físicas curiosas são forçados a se esconder, se tornando reclusas entre elas. Dentre elas estão Samantha (Ana Polvorosa), uma mulher com o ânus no lugar da boca e vice-versa , Laura (Macarena Gómez), uma menina sem olhos e Ana (Candela Peña), que possui o rosto deformado. Juntas, esforçam-se para se encontrar em uma sociedade que só entende uma forma física e maltrata o diferente.

Ainda que lançado em 2016, sendo fruto de um curta-metragem do diretor Eduardo Casanova esse seu primeiro longa-metragem espanhol chegou recentemente a Netflix fazendo bastante barulho. Tudo no filme é estranho, beira ao absurdo e complexo, teria algum valor poético?

Diria que sim, talvez nas cores rosa danoninho, e lilás que o filme apresenta e até mesmo na fotografia do filme. Hoje em dia falar sobre esses elementos em filmes chega a ser chato ou sinônimo de cult para alguns, porém não é possível ver um filme como Pieles sem destacar esses elementos.

Mas o rosa no filme seria para suavizar essa película densa e traumática ou seria para denunciar o amor e sedução? Amor e sedução que são atributos do próprio feminino, quando falamos das deformidades, abordamos sobre o feminino pois se pensarmos sobre o complexo de castração é a mulher que nos acrimina a deformidade.

Logo no inicio do filme temos uma agenciadora de pessoas para a prostituição, e o discurso dela é de um baque tão forte, uma mulher que tem como clareza que na vida existem aquelas que nasceram pra ser escravas e usar dessas pessoas para a satisfação própria não deve ser visto como problema.

E assim essa mulher vende para um homem uma menina de 11 anos para prostituição, temos ali a consumação da pedofilia. E a leitura que podemos fazer psicanaliticamente do pedófilo é que ele tem desejo exatamente por corpos que não dão conta de responder ao ato sexual.

E o mais interessante do filme é que a todo momento compreendemos que os maiores deformados do filme são os que se podem dizer ditos cujos normais e demonstram a alma perdida. São essas criaturas ”Normais” que estupram, que agride, que compra pessoas e usam como objetos.

Fica claro então ainda pelo viés psicanalítico de que os perversos cometem suas atrocidades para denunciar aos neuróticos que o controle é em vão. Todo o filme é uma castração, nesse cenário onde tudo é caótico e de inicio ao estranhar tamanhas peculiaridades encontramos risos sabe se lá se é por susto ou deboche compreendemos que se torna possível até falar sobre a homofobia.

Sobre a homofobia ao pensar que somos reduzidos ao órgão do corpo que tem menos prestígio. E nesse filme onde o personagem Christian (Eloi Costa) um garoto que quer ser sereia e desconhece a perna como algo seu e deseja a amputação, esse talvez seja um contraste diferente e importante no filme pois onde se tem tantas deformidades naturais esse garoto aparece questionando excessos e a espera do milagre da deformação para ser assim feliz e completo.

Esse complexo desse personagem é tão forte e destrutivo que chega as últimas consequências, a sereia que em seu simbolismo significa a associação as tendências auto destrutivas e opressivas. Resultado de uma vida repleta de instintos, armadilhas criadas pelo desejo e as paixões sem fundamento no amor e sim no poder.

Poder sempre associado ao masculino se visto pela teoria freudiana, já que o homem possui o falo e a mulher não. Então talvez seja preciso perguntar, existe beleza no grotesco? Como conseguimos sexualizar até a deformidade?

Não seria o desejo sexual por uma criança uma deformidade psíquica? Qual o limite das dores e dos prazeres que cercam o corpo humano?

No final o filme demonstra que o amor próprio é possível, o auto conhecimento e aceitação. No final compreendemos que a pele apodrece, pode ser que demore mas tem muitas pessoas com a alma podre nessa vida e a pele reluzente pra esconder a pior deformação existente.

No final quando você escutar que esse filme não é para qualquer público, talvez seja verdade. Não que algumas pessoas são mais especiais do que as outras pra entender tal obra e aceitar, nada disso. É simplesmente pelo fato de que o filme, foge do tradicional, do belo estético e cai no absurdo e grotesco.

Para isso é preciso estômago e uma dose de insanidade pelo filme feito para chocar e trazer a mensagem de que nada que é tão belo dura para sempre.

E você já viu este filme? O que achou?

Já tinha visto outros filmes turcos? Tem algum para indicar para nós?

Vamos conversar nos comentários.

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