O diretor Edgar Wright já se aventurou por diversos gêneros, sempre com muita elegância e estilo. Sua técnica evoluiu bastante e isso é nítido, a cada nova produção ele se mostra mais virtuoso. Embora nunca tenha feito um terror no sentido mais restrito da palavra, mostrou que possui um bom repertório sobre o gênero no seu primeiro longa “Todo Mundo Quase Morto” (2004), uma ótima comédia de terror. Mesmo assim, quando ele anunciou que finalmente lançaria um filme de terror, a notícia foi recebida com certa surpresa.
No filme, acompanhamos a história de uma jovem do interior da Inglaterra, aficionada pelos anos 60, que chega a Londres para estudar moda. Além de passar por dificuldades de se ajustar, sua aparente capacidade mediúnica passa a ser sua melhor companheira, até que começa a lhe causar problemas.
Edgar Wright não abre mão do seu estilo e, mais uma vez, demonstra um profundo domínio da direção e traz elegância e estilo à produção. Com movimentos de câmera desconcertantes, somos colocados no lugar da protagonista com precisão. Mérito, também, da fotografia que brinca o tempo inteiro com o jogo de luzes, o letreiro em neon na janela da protagonista é quase um personagem.
O elenco faz um ótimo trabalho, mas os destaques ficam para Thomasin McKenzie, que mostra que sua promissora carreira já pode ser chamada de realidade, e Anya Taylor-Joy está, mais uma vez, impecável. Sua atuação é requintada e misteriosa e de um magnetismo impressionante. A trilha sonora consegue situar o público sem ser óbvia, é mais um ótimo uso do recurso pelo diretor.
É bom deixar claro que se trata de um terror psicológico, então não espere por sustos fáceis. Inclusive, em questão de cenas tensas, o filme oscila. Em alguns momentos funcionam muito bem, mas, em outros, deixam muito a desejar, pois apostam em elementos já batidos do gênero.
A história deixa a impressão de que poderia ser menor, mas não é bem verdade. Essa impressão é causada por conta de um mistério mal conduzido que só passa a ser realmente intrigante próximo ao seu desfecho. Desfecho esse que, por sua vez, pode ser facilmente solucionado para um público com olho mais “treinado” nesse tipo de narrativa.
Como não poderia deixar de ser, o filme presta algumas homenagens, mas a que fica evidente é a “Repulsa ao Sexo”, do original “Repulsion” de Roman Polanski, um terror psicológico inglês dos anos 60, justamente a época em que parte da trama do filme de Wright se passa. Até a temática do filme é parecida e uma das referências é bem óbvia.
Noite Passada em Soho está longe de ser perfeito, mas é um ótimo exemplar do terror atual, que vive uma excelente fase. Fico, desde já, ansioso por uma próxima visita do diretor ao gênero.