Crítica | Klaus (2019)

O espanhol Sergio Pablos é conhecido pelo designer de personagens de animações como O Corcunda de Notre Dame (Frollo), Hércules (Hades), Tarzan (Tantor o elefante), O Planeta do Tesouro (Dr Doppler), produções da Disney em 2D e criador da franquia de Meu Malvado Favorito, a ideia por trás da animação Klaus surgiu, da mesma forma que The Irishman de Martin Scorsese, um projeto pessoal para homenagear o gênero que lhe deu fama. A produção da animação teve muito problema, pois os estúdios de Hollywood viram nele um projeto complicado e só foi possível quando a Netflix entrou no meio.

Para um filme em animação em 2D sobre as origens do Papai Noel, protagonizado por um carteiro, poderia nem chamar a atenção nos dias atuais. Mas, Pablos com a animação Klaus responde com uma comédia/aventura cativante e divertida com ecos do engraçadíssimo A Nova Onda do Imperador.

O 2D não é só um mero capricho de Pablos, já que a história é construída introduzindo certa lógica nas reações dos personagens, para beneficio do hiperrealismo. Bem verdade que há uma aplicação a mais em alguns personagens secundários, mas características mais típicas dos desenhos animados do passado são vistas, mas muito bem integradas a uma história tão simples quanto lindamente narrada.

O espanhol criou o Gru de Meu Malvado Favorito, que foi moldado de acordo com a produtora Illumination, em Klaus, segundo o Sensacine, foi mais protecionista em relação aos personagens, mesmo que o roteiro tenha sido feito com a a ajuda de Zach Lewis e Jim Mahoney, o que causou problema na apresentação aos estúdios de Hollywood, e a Netflix, deu a tradução certa a proposta que o criador desejava.

O personagem Jesper, um carteiro malcriado e egoísta que recebe uma tarefa impossível é como fosse o alter ego dessa situação. O personagem transita em sua atitude de maneira fluida, passando de alguém que só quer sair de lá para voltar a dormir em sua cama com lençóis de seda até se tornar um defensor desse modo de vida mais ingênuo. E isso não ocorre de repente, as dúvidas são levantadas e quando o carpinteiro misterioso que fabrica brinquedos feitos à mão (Klaus) entra em cena a mudança é incrível.

Se Jesper inicialmente lembra bastante do Kuzco de A Nova Onda do Imperador, com Klaus encontramos uma versão mais madura de Pacha, especialmente porque sua situação é bem diferente. A amizade que surge entre os dois não leva muito tempo para se tornar o verdadeiro mecanismo narrativo da história, um presente que Pablos constrói brilhantemente.

Assim, as cenas mais divertidas estão associadas aos personagens secundários, como o barqueiro, mas com outros habitantes do lugar -, mas sempre procurando o equilíbrio certo para que esse toque cativante se direcione às origens do Papai Noel. E para conseguir o equilíbrio usa de alguns vilões arquetípicos, além de compor um senso visual e narrativo do cinema de animação de várias décadas, recuperando coisas que merecem serem guardadas em nossas lembranças e que se integra maravilhosamente no filme.

Na trama final o emocional nos abarca, mas sem perder a desenvoltura e sem renunciar à aventura tão bem planejada, que ainda inclui uns pontos engraçados, comuns em toda o filme. Desta maneira, consegue levar o que seria uma moral óbvia e sóbria para algo mágico que tantos desejam e nem todos alcançam. 

Sendo o primeiro longa metragem de animação da Netflix é uma delícia que abraça sua natureza de ser uma proposta visual que seja antiquada, a animação 2D pode limitar frente a espetacularidade de alguns filmes dos últimos anos, com uma narrativa que você já viu outras vezes, mas que cativa pelas lembranças envolvidas daqueles bons momentos da nossa juventude. Klaus é emocionante e profundamente bem feito, assistam é um presente de Natal da Netflix.

TRÍVIA

O filme no Brasil traz a dublagem de Rodrigo Santoro como Jesper, Daniel Boaventura como Klaus e Fernanda Vasconcellos como Alva.