Crítica I Luta Decisiva (1990)

As raízes do boxe remontam à Grécia Antiga. Socos e bordoadas com luvas e sem luvas, entre nobres ou o povo em geral, pigmaquia ou pancrácio. Regras foram criadas para tornar as lutas mais justas e seguras, na Inglaterra no século XVII e continuou pelos próximos 150 anos, através de várias permutações de regras. Mas por volta de 1900, lutas “com luvas” se tornaram a norma, aumentando a contagem de socos, tudo para o prazer do público. A briga de punhos nus do passado foi relegada a becos e considerada um passatempo ilegal.

Mas, sabemos, que há outra razão pela qual o boxe sem luvas caiu em desuso e se tornou ilegal. Os profissionais usam capacete quando treinam, luvas e protetores bucais quando estão entre as cordas. É porque o boxe sem proteção é uma forma brutal de luta onde lesões não são apenas uma possibilidade, elas são garantidas.

O filme britânico, Luta Decisiva (The Big Man, 1990) aborda lutas “nuas”, em um drama a la Rocky Balboa, estrelado por Liam Neeson (1952) como um mineiro escocês desempregado forçado a aceitar a oferta de um gângster de Glasgow de uma luta ilegal de boxe sem luvas.

Dirigido por David Leland (1942), o filme apresenta Danny Scoular (Neeson), um mineiro desempregado em uma comunidade escocesa deprimida, onde os desempregados relembram a luta do bom combate na greve dos mineiros de 1983. O roteiro é escrito por Don MacPherson (1954), baseado no romance de William McIlvanney, The Big Man (1986).

Enquanto Danny é respeitado na cidade, seu passado como um brigão e seu período na prisão por socar um policial durante essa greve o tornaram praticamente inalutável no mundo “hetero”. Enquanto sua esposa Beth (Joanne Whalley) tem mantido financeiramente a família, o que corrói o orgulho de Danny.

Quando a oportunidade de ganhar algum dinheiro surge, é forçado a aceitar a oferta de um gângster de Glasgow (Ian Bannen) para lutas ilegais de boxe sem luvas. Atitude que faz com que Beth saia com os filhos para a casa de seus pais de classe alta, deixando Danny para treinar sozinho.

A ideia de que Danny está mais disposto a lutar pela glória de vencer do que pela estabilidade financeira até que é explorada, mas o esforço é, na melhor das hipóteses, banal. Neeson faz o que pode para dar profundidade ao personagem, mas até ele parece saber que tudo é apenas um meio de chegar à luta.

Temos a atuação carismática de Neeson e Whalley, mas o desempenho extremamente malvado de Bannen rouba o show. Atores veteranos do Reino Unido estão como coadjuvantes, como Peter Mullan (1959),  Pat “Bomber” Roach (1937–2004), Billy Connolly (1942), Maurice Roëves (1937–2020), Kenny Ireland (1945–2014), Amanda Walker (1935), Jack Shepherd (1940), Rab Affleck (1953), entre outros.

Sobre as lutas, são simplesmente incríveis. E especial, a principal, desde a escalação de Neeson como Danny Scoular, o ator teve experiência com boxe amador quando adolescente, então seu conforto no ringue e em misturar durante o treinamento é óbvio. Serve como um sparring real no filme e Liam estava em sua melhor forma, e ele é uma figura imponente. Mas o trabalho realmente impressionante está na filmagem da luta.

É raro quando todos os ingredientes de um filme (som, cinematografia, elenco, música, etc.) se encaixam perfeitamente. É igualmente raro quando um filme menor é capaz de obter essa perfeição para uma cena ou duas. E esse consegue toda a sinergia, a ação e os efeitos de maquiagem são assustadores, cada soco é sentido e a dor dos combatentes parece bem real. A multidão e a música de Ennio Morricone (1928–2020) começam muito reservadas, mas aumentam até o final, onde se tornam um bando uivante em torno dos lutadores.

Mas apesar da boa história, das atuações e dessas cenas de luta, a direção não é legal, o estilo artístico não atrai o espectador. Desde o início, à medida que vamos do casamento de Danny e Beth ao protesto do fechamento da mina, parece excessivamente surreal. Algumas cenas se prolongam por muito tempo e, parecendo lento e monótono, além de cenas de nudez e sexo que não funcionam.

Luta Decisiva (The Big Man, 1990) poderia ter sido um bom filme, possui todos os ingredientes para ser memorável mas infelizmente a visão do diretor acabam estragando-o, tornando-o fraco, independente de seus aspectos positivos.

Homenagem póstuma: George Rossi (1961–2022)

O ator escocês, que interpretou em Luta Decisiva o lutador Eddie, amigo de Danny, faleceu no dia 5 de janeiro, aos 60 anos, vítima de um câncer pancreático, em sua casa, ao lado da família. Nascido na cidade de Glasgow, em 28 de setembro de 1961. Descendente de italianos, após o Ensino Médio, entrou numa escola de teatro em Essex e ficou trabalhando na sorveteria da família, até ser convidado em 1984 a participar da comédia Conforto e Prazer (foto abaixo). Continuou a trabalhar ao longo da década de 1980, que incluiu participações em Max Headroom (1985) e em The Singing Detective (1986).

Robusto e alto, foi escolhido para Luta Decisiva (1990) e outros filmes, chegando até a terra de seus antepassados para filmar Para Roseanna (1997), onde interpretou um sargento da polícia. Seu papel mais conhecido no seriado policial da ITV, The Bill (1993-2003), como DC Duncan Lennox, um detetive escocês rude com um bom senso de humor. Assim como Roughnecks (1994-1995), Whitechapel (2009-2010), entre outros. Casado desde 1988, com Catlin, a qual teve dois filhos Santino, 24 e Matilda, 26.