Doutor Sono é a continuação direta do filme O Iluminado e carrega nas costas um grande desafio.
O Iluminado de Stephen King foi publicado em 1977 e trazia a estória de Jack Torrance , um professor de inglês alcóolatra que deseja escrever um livro, então arruma um emprego como zelador de um hotel durante o inverno. O hotel chama-se Overlook e ficará fechado de Outubro até Maio, e a função de Jack e sua família é manter o Hotel neste período, para que o mesmo não seja tomado pela neve. Jack vai para o hotel com sua esposa Wendy e seu filho Danny de 6 anos. Porém logo forças sinistras começam a modificar Jack dizendo que ele deve matar sua família. O livro, logo se tornou um ícone da literatura de terror.
Em 25 de Dezembro de 1980, chegou aos cinemas brasileiros o filme O Iluminado, dirigido por Stanley Kubrick, que se baseou no livro de King, mas fez diversas alterações, o que desagradou muito o autor do livro, que nunca aceitou a versão cinematográfica de sua estória, mas mesmo assim o filme de Kubrick se tornou um ícone do filme de terror psicológico.
Ai em 2013, 36 anos depois do primeiro livro, King decidiu criar uma continuação para seu livro. Muito adoraram (Meu caso, vide resenha aqui) e muitos odiaram.
E como textos de King são sinais de boas bilheterias, agora 39 anos após o lançamento do famoso filme de Kubrick chega aos cinemas a versão de Doutor Sono , desta vez dirigido por Mike Flanagan, que ficou famoso este ano pela adaptação de A Maldição da Residência Hill na Netflix.
Mas como agradar os fãs de King e também os de Kubrick, sendo que cada um fez uma versão diferente da mesma historia. Será que Flanagan conseguiu isso?
Sim e não.
O filme começa fazendo uma homenagem a King e termina homenageando Kubrick, mas talvez a tentativa de agradar aos dois grandes ícones tenha acabado atrapalhando um pouco este filme.
Deixe me tentar explicar o porquê.
Doutor Sono está dividido em 3 atos. O primeiro onde conhecemos os personagens, o segundo onde eles se encontram e os vilões passam a ameaçar os mocinhos e na terceira parte, quando os mocinhos precisam se unir para acabar com os vilões.
No primeiro ato, de apresentação, temos 3 estórias sendo contadas de maneira paralelas.
Na primeira temos o pequeno Danny que sobreviveu a seu pai em O Iluminado. Ele cresceu (Ewan Mcgregor) e infelizmente seguiu o caminho do pai, transformando-se num alcoólatra. Com o tempo ele até aprendeu a lidar com seu dom, mas o peso disso o levou a bebida. O filme começa com ele chegando a uma nova cidade, onde acaba sendo bem recebido , arruma um emprego, entra para o AA e começa a receber mensagens de alguém através da parede de seu quarto.
Temos ai a segunda estória, pois quem manda estas mensagens é Abra (Kyliegh Curran) , uma menina de 12 anos, que também possui o dom da “Iluminação”, porém muito mais forte que Danny.
Desde pequena Abra manda mensagens para Danny, pois o considera um amigo imaginário, até o dia que ela tem uma visão do assassinato de um garoto e passa a correr risco de vida.
Temos ai a terceira frente do filme, com Rose Cartola (Rebecca Ferguson) e a trupe do Verdadeiro Nó, um grupo de pessoas que está na Terra há muitos anos e que se alimenta da “Iluminação” das crianças para que possam ter vida eterna.
Todos os 3 núcleos são descritos com bastante detalhes, assim como no livro, fazendo com que a plateia se identifique com todos eles, pois a partir do segundo e no terceiro ato, esta identificação entre publico e personagens será essencial para o filme.
Este primeiro ato é extremamente fiel ao livro de King, porém ao escolher ser tão fiel, o roteiro acabou comprometendo o ritmo do filme.
O diretor leva o tempo que acha necessário para que conheçamos os 3 núcleos até que todos colidam.
Para quem já leu o livro, o filme se mantém interessante, pois queremos ver como a estória do livro será transportada para as telas, porém para quem foi ao cinema somente querendo ver este filme, sem ter nenhum background da estória, arrisco dizer que vai receber um filme um pouco arrastado.
Mas ai temos o segundo ato.
Diferente de O Iluminado, que era um terror psicológico, Doutor Sono está mais para uma fantasia e isso é muito legal. Sendo assim, com exceção da pesada cena em que o Verdadeiro Nó retira o “vapor” do garotinho, o resto do filme é uma grande aventura e isso se mostra bem no segundo ato do filme, onde Mike Flanagan nos mostra as batalhas mentais travadas entre Abra e Rose com ótimos efeitos especiais e traz os melhores momentos do filme.
Já no terceiro ato do filme, o diretor faz algumas alterações ao final do livro, deixando King de lado e para poder homenagear Kubrick leva a decisão da estória ao hotel Overlook onde Danny precisará exorcizar seus demônios para conseguir seguir sua vida em paz.
Para isso, o diretor e a equipe de Direção de Arte fizeram uma grande reconstituição do Hotel Overlook do filme de 80 que beira a perfeição.
A reconstituição do hotel é muito bem feita, com seus corredores, tapetes, o restaurante, o quarto de Jack, a porta quebrada por ele, o bar onde ele conversava com o zelador e até o pequeno Danny andando de Velotrol pelo hotel.
Devido a estreia de Doutor Sono agora em novembro, eu pude assistir a O Iluminado no cinema em uma sessão especial, e tendo as imagens frescas do primeiro filme na cabeça, é impossível não parabenizar esta nova produção.
Porém assim como na primeira parte quase todo o texto de King foi trazido para a tela talvez de uma maneira um pouco exagerada, na ultima parte o diretor nos traz uma overdose de citações do filme de Kubrick, o que para mim deixou o final do filme um pouco chato e datado.
Mike Flanagan apostou alto na nostalgia, mas para mim novamente este excesso pesou no ritmo do filme.
Em resumo, Doutor Sono é um tipico caso de onde menos poderia ter sido mais.
Para os fãs do livro de King, Doutor Sono é um bom filme, porém eu acredito que a historia criada pelo autor é tão cheia de detalhes que tinha folego para ser uma minissérie, o que talvez o tornasse mais interessante.
E você já viu este filme? O que achou?
Era fã de O Iluminado de Kubrick? Ou prefere O Iluminado do livro de Stephen King?
Vamos conversar nos comentários.
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