Crítica | De volta aos quinze

De volta aos quinze foi uma série da Netflix que fez o que nenhuma série conseguiu fazer a algum tempo: prender minha atenção ao ponto de me fazer maratonar. Lançada no final do mês de fevereiro, De volta aos quinze é uma série brasileira que foi baseada no livro da autora Bruna Vieira, que mistura romance, hormônios adolescentes, viagens no tempo e nostalgia.

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Bruna Vieira, autora de De volta aos quinze, da Editora Gutenberg

Aqui acompanhamos a história de Anita, interpretada pela atriz Camila Queiroz, que volta para a cidadizinha de Imperatriz para o casamento da irmã Luiza (Mariana Rios). Sua vida não está perfeita aos 30 anos, e, quando comparada à de sua irmã, parece que vai de mal a pior. Nesse ponto, por mais que Anita pareça ser uma mulher mimada e egoísta, eu entendo que ela só não consegue se encaixar no lugar onde cresceu, e que, mesmo de forma atrapalhada, quer ver seus amigos felizes.

Depois de uma grande na festa de casamento da irmã, Anita acaba voltando para o seu quarto e abre seu Floguinho, um instagram da época. Ela acaba voltando no tempo sem querer, de volta os seus quinzes anos, e percebe que terá que viver tudo de novo, ou pode mudar o seu passado para evitar o que aconteceu no futuro. Mas será que essas mudanças são boas mesmo?

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Camila Queiroz e Maisa como Anita em De volta aos 15

Maisa interpretando Anita aos quinzes anos entrega uma personagem carismática, dona de si, e que as vezes perde a linha por ser sincera demais e tentar ajudar demais aos outros, esquecendo um pouco de si. Não sei se ter crescido assistindo Maisa no SBT, ma vi muito da Maisa criança na Anita, aquela sinceridade descabida de uma criança. Isso pode ter facilitado um pouco para a atriz (ou não), mas ela conseguiu dosar bem nas cenas de drama que acontecem na trama.

Não posso falar da série e focar apenas na Maisa, pois o elenco principal do passado entrega tudo na série. Klara Castanho como Carol já é uma figurinha carimbada na Netflix, então já sabemos que, mesmo não sendo a personagem principal, conseguiu mostrar verdade nas suas inseguranças adolescentes. Agora três atores que me surpreenderam foram Caio Cabral como Henrique, Pedro Vinicius como César e Antonio Carrara como Joel. Caio Cabral passou tanta verdade como Henrique, como aquele amigo presente, mas apaixonado, que sabia se mostrar sem jeito em algumas situações, depois já bem desenvolto com um violão na mão. Ele conseguiu dosar o personagem tão bem que eu acabei me apaixonando por Henrique (até mais que a lerda da Anita).

Outros dois destaques que não posso deixar de mencionar foram Amanda Azevedo interpretando a Luiza mais nova e o João Guilherme interpretando Fabrício mais novo. Amanda conseguiu mostrar uma Luiza perfeita, princesa, mas que também precisa lidar com o peso das expectativas que as pessoas colocam nela, trazendo uma personagem que poderia ser um pouco mais aprofundada ao longo da série. João Guilherme eu conhecia mais pelas fofocas envolvendo o nome dele, então foi meu primeiro contato com a atuação dele. Admito que não achei uma grande atuação, pois Fabrício novo é bem caricato, bem estereotipado como um ‘boy problema’.

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Pedro vinicius e Alice Marcone em De Volta aos quinze

Outro ponto que preciso ressaltar aqui é como a série De volta aos quinze trata a diversidade. Da mesma forma que ela mostra que no passado o preconceito era uma coisa muito enraizada nas pessoas, como vemos o quanto o César (Pedro Vinicius) sofre de seus colegas de escola e com seus amores virtuais, a série também mostra que não é um bicho de sete cabeças. César sempre foi aceito pelo seu pai e, em 2021, já não é mais César, e sim Camila, interpretada pela Alice Marcone, uma atriz trans que interpreta uma personagem trans.

Agora, falando da trama, a história ficou muito bem encaixada. Os personagens iam aparecendo a medida que as coisas se desenrolavam, e eles iam ganhando seu espaço na trama de forma natural, sem forçar. Foi mostrado de forma clara que a viagem no tempo interfere sim no presente, e, mesmo quando achamos que tomamos as melhores decisões, estamos impactando a vida de outras pessoas ao nosso redor. De volta aos quinze conseguiu mostrar que tudo que fazemos tem consequências, e que precisamos aprender a lidar com elas.

Uma coisa que me irritou na Anita foi ela conseguir ver coisas pequenas ao redor dela, mas, quando as coisas estavam escancaradas demais, ela simplesmente não percebia. Como? Acho que minha crítica maior a série é a forma como a personagem principal ignorava coisas óbvias demais.

De volta aos quinze soube dosar bem a comédia que carrega a história com drama e conflitos pessoais que os personagens carregam. É possível ver verdade nos personagens, nos conflitos internos pelos quais eles passam, e ainda conseguir tirar graça dos momentos mais difíceis. É uma série que consegue te divertir, te emocionar e te fazer passar um pouquinho de raiva com a lerdeza da personagem principal. Seis episódios foram poucos para mostrar tudo o que poderia ter acontecido, e espero uma segunda temporada em breve, já que o final deixou uma pulga enorme atrás da orelha.