Cowboy Bebop chamou minha atenção assim que foi anunciada a adaptação pela plataforma de streaming Netflix. Mesmo que se anime tenha sido lançado em 1998, eu não cheguei a assistir, mas, assim que esteve disponível, decidi me arriscar a assistir, até mesmo para entender um pouco mais sobre essa história que me chamou tanto a atenção.
Cowboy Bebop foi produzida e dirigida por Shinichiro Watanabe, e se passa no ano de 2071. A história é centrada na vida de uma tripulação de caçadores de recompensas espaciais da nave Bebop. A série de anime é composta por 26 episódios, contando histórias isoladas sobre os tripulantes da nave, até convergirmos nos episódios finais. Vou falar aqui separadamente do anime e do live-action, e estabelecer os paralelos entre eles.
Cowboy Bebop (1998)
A série de animação mostra como a tripulação da Bebop acaba se juntando através de vários episódios com histórias isoladas, completas. Aqui vemos Spike Spiegel, um ex-filiado do sindicato, e seu parceiro Jet Black, um ex-investigador da ISSP, Faye Valentine, uma humana desperta depois de longos anos de criogênese sem lembranças de seu passado, Ein, um cachorro de dados da raça Corgi e Ed, uma hacker brilhante pré adolescente.
Ao longo dos 26 episódios, vamos acompanhando a interação entre esse personagens e como cada um lida com os erros do passado. Cowboy Bebop já conseguiu me impactar logo no primeiro episódio, Asteroid Blues, mostrando que não é por ser desenho que vai tratar de forma infantil seus assuntos e seus telespectadores. Temas como abuso de drogas, suicídio, perda e luto são tratados na série com maestria.
Mesmo que nenhum dos personagens seja um santo, excetuando-se Ein e Ed, nós conseguimos nos afeiçoar a eles, e vamos entendendo aos poucos o quebra cabeças que é o passado de Spike, e como a trama, mesmo com situações isoladas em cada episódio, consegue convergir para explicar o passado e o presente dele.
Spike é aquele cara canastrão, engraçado, que está sempre com fome. Mesmo seu passado como assassino não faz com que ele deixe seu bom humor e sarcasmo de lado, sua marca registrada. Os outros personagens também são cativantes, tanto que, para mim, um dos melhores episódios é quando Faye consegue descobrir um pouco sobre seu passado.
A trilha sonora da série é incrível, regada ao som de jazz, e a dublagem brasileira está impecável. Cowboy Bebop (1998) é fácil de se assistir, e por mais que seja entretenimento, consegue fazer a gente refletir um pouco sobre muitos dos temas ali tratados.
Minha nota para essa série é definitivamente 5 estrelas!
Cowboy Bebop (2021)
Com um anime tão bom para se basear, muita coisa na série em live-action poderia dar certo, mas poderia dar errado também. Precisamos compreender que é uma adaptação, então nem tudo será igual ao anime de 1998. Cowboy Bebop traz John Cho no papel principal de Spike, Mustafa Shakir como Jet, Daniella Pineda como Faye, Alex Hassell como Vicious e Elena Santine como Julia todas as vezes que Julia aparecia em cena em me lebrava da Luisa Sonza.
A adaptação da Netflix conta com 10 episódios, porém de duração mais longa que a do anime. Como é uma adaptação, nem todos os personagens que apareceram no anime aparecem aqui, mas a maioria dos que aparecem tem sua personalidade e caracterização o mais fiel possível ao original. Os efeitos também ficaram muito bons, e eu gostei bem mais do que no filme Alerta Vermelho, também na Netflix.
Excetuando-se Vicious, a caracterização dos atores ficou muito fiel à obra original, nos dando aquela breve esperança de que a adaptação seria épica da mesma forma. Separei Vicious porque a caracterização dele foi a mais caricata de todos os personagens principais.
Ao invés de mostrar poder e grandeza, a câmera que só gravava o ator de baixo para cima e sua caretas de Alex Hassell deixaram o personagem beirando ao ridículo, e quando ele aparecia em cena, eu me esquecia completamente que estava vendo uma série de cowboys no espaço e esperava uma comédia pastelão. O Vicious do anime dá muito mais sensação de perigo eminente do que esse de Hassell, além de ser muito mais inteligente.
Cowboy Bebop em live-action buscou personagens marcantes como inspiração nos seus episódios iniciais, e seu primeiro episódio é muito similar ao primeiro episódio do anime. Os dubladores dos personagens principais e de alguns vilões também são os mesmos, o que facilita a identificação. Mas as semelhanças param por aí.
John Cho consegue entregar um Spike convincente, com um pouco menos de malandragem do que seu homônimo em 1998. Eu gostei da atuação dele e de suas cenas de luta, que, por mais ‘forçadas’ que fossem, lembraram muito ao desenho. Daniella Pineda não teve tanto destaque em tela, e, ao mudarem a história de seu passado, senti que a personagem perdeu um pouco da carga dramática que carregava no anime. Mustafa Shakir entregou um Jet mais sério, mais centrado, preocupado com a família e com os amigos, o que gostei bastante no arco do personagem.
A série pode funcionar para quem viu o anime a muito tempo e tem nostalgia, ou para quem nunca viu o anime. Mas, para quem viu a pouco tempo e foi assistir a série, já não funciona tão bem. As comparações são óbvias, acontece, mas a seriedade com que os personagens foram tratados em animação perde-se na adaptação. Eu senti falta de alguns personagens que tem importância na série animada, mas gostei da relevância que outros tomaram nessa. Um bom exemplo é a Ana (Tamara Tunie), que ganha enredo, destaque e importância crucial para toda a história.
Outro ponto positivo foi a exploração maior do passado de Vicious e de Spike juntos. Eu gostei de ver e entender a motivação dos personagens mais aprofundada, ainda que a maior parte da motivação de Vicious pudesse ser resolvida com um latão de cerveja e música sertaneja.
A história de Cowboy Bebop da Netflix tomou rumos diferentes da animação e deixou um gancho em aberto para a segunda temporada, coisa que não foi feita no desenho. Eu gostei dos novos rumos tomados pela história, deixando que mais coisa possa acontecer no futuro. Mesmo que isso tenha acontecido para ser possível a adaptação, algumas das mudanças nas personalidades de alguns personagens feitas fizeram com que eu tivesse a sensação de que a série de 2021 tenha ficado aquém da obra de 1998,.
Por fim, Cowboy Bebop é uma série divertida para ser ver em um filme de semana, esquecendo-se que é uma adaptação, e aceitando que algumas atuações foram exageradas demais (e estou falando do Hassell mesmo). Não darei nota máxima, mas espero que não seja cancelada na primeira temporada, já que quero ver a Ed e o Ein juntos em cena, lidando com os outros três principais.
Minha nota para a série é 3,5 estrelas.