M. Night Shyamalan é um diretor controverso, para dizer o mínimo. Seu filme de estreia, ‘O Sexto Sentido’, fez sua carreira estourar logo de cara. Ele manteve um nível de qualidade alto por um tempo, seguido de altos e baixos. Seus filmes carregam o peso de sempre terem que apresentar finais surpreendentes. Nem sempre ele consegue, mas nem sempre ele tenta.
Na história, o descanso de uma família numa cabana isolada é interrompido quando quatro estranhos invadem o local e os fazem de reféns, com a justificativa de que precisam evitar o apocalipse.
É tragicamente engraçado que, em tempos de terraplanistas e golpistas, essa trama seja tão tangível. Os roteiristas sabem disso e usam para, somado à inegável habilidade do diretor de criar tensão, sequestrar a atenção do público. Isso desde a primeira cena, na qual um momento de pura ternura rapidamente se transforma na calmaria antes da tempestade.
Tempestade essa que se mantém durante toda a duração. Além do intrigante enredo e da habilidosa direção, a construção dos personagens funciona de forma natural, por mais que a maioria deles tenha um enorme ponto de interrogação na testa.
Shyamalan consegue tirar o máximo de seu elenco que segue numa tensão crescente ao mesmo tempo em que dubiedade é crucial para que o filme funcione. Dave Bautista é o destaque, seu físico imponente contrasta com sentimentos conflitantes e ambíguos. Jonathan Groff e Ben Aldridge fazem um casal que sente medo e amor na mesma medida, fortalecendo o senso de urgência.
Como acontece em toda nova produção do diretor, muitos devem estar perguntando sobre o desfecho. Jamais ousaria estragar a experiência de ninguém e nem vou comentar se temos uma grande reviravolta ou não. Independentemente disso, o final foi satisfatório para mim, mas admito que uma parte do público pode se frustrar.
‘Batem à Porta’ vai direto ao ponto, é muito tenso e com um mistério que prende o público do primeiro ao último segundo. Além disso, encontra espaço para discutir temas mais espinhentos com rara elegância.